Na varanda à tarde

Alguns momentos nos marcam para sempre, o voo de um pássaro no desabrochar da manhã, os primeiros passos dos filhos, o primeiro namorado entre tantas boas lembranças. Sempre ao cair da tarde, sentada em minha cadeira preguiçosa, fico a olhar dentro de mim desses momentos.

Ainda era cedo, os galos no alto das cercas de madeira cantavam em tom jovial ao dia e os meninos corriam debaixo de um umbuzeiro antigo carregado de frutos maduros. No poço, situado a cinco metros da casa, eu puxava numa gangorra cuidadosamente um pouco de água, devido à escassez desta. Não poderia baldear, pois assim não serviria para colocar no pote e beber. Meus sentidos eram todos centrados nesse serviço. Conhecedores dessa realidade, os meninos olhavam.

_Mãe, quando a gente vai ter água na torneira aqui em casa? _ Perguntou-me o menor.

Abrindo um sorriso e o coração apertado, falei olhando bem nos olhos dele:

_Quando o papai arrumar um emprego, meu filho, ou a mamãe passar no concurso que fez. No momento, temos de agradecer a Deus por termos ainda este poço...

Não precisei continuar com a explicação; ele meu deu um sorriso tão compreensivo que algumas lágrimas me desceram nas faces. As duas meninas maiores, uma com a caçula no colo, achegaram-se a minhas pernas.

_ Mãe, eu sei que a senhora vai passar no concurso de professora. Aí nossa vida vai mudar e vamos poder ir para a cidade. A senhora não vai mais precisar ficar carregando lata d’água na cabeça. Não é, mãzinha?

Senti que me encolhia por dentro, profundas foram as palavras de minha filha mais velha.

Enquanto eu conservar no peito essas lembranças, não terei por que ficar me sentindo assim tão só, com as meninas agora na universidade na cidade grande. Fui a primeira professora delas e lembrar-me do be-a-bá da cartilha de ensino me soa como um hino da educação. Sei que os pássaros alçam voo do ninho. O bom é saber que voltam à tarde. Estarei aqui nesta preguiçosa ouvindo as histórias delas e suas conquistas; e como toda mãe do interior farei aquela galinha caipira no domingo!

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 15/01/2010
Código do texto: T2030304
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