VOCÊ É TÍMIDO (A)?

Sempre fui tímida, desde a extremamente tímida até a tímida debochada. Existe isso? Bem, se não existe, fica aqui mais um tema para livro de auto-ajuda. Muito embora eu nunca tenha lido nenhum para resolver esse problema.

Na verdade, não resolvi, absorvi. E não foi só eu, vide os inúmeros atores e humoristas que quase enfartam durante uma entrevista. Não estou sozinha. Menos mal. Aliás, as pessoas com quem convivo no meu dia-a-dia duvidam que eu seja tímida. Pois, pasmem: sou sim.

Mas, não é culpa minha. Observe ao seu redor e veja que muitos - pessoas e situações -, contribuem para o azar de quem gostaria de ser invisível 99% do tempo.

Para exemplificar citarei alguns fatos pessoais que hoje consigo contar numa boa e ainda rir. Durante sete anos fui a caçula de sete irmãos bem mais velhos, ou seja, a xodó da família. Mesmo depois que nasceu meu irmão não perdi no posto da caçúla das meninas. Minha mãe e meus irmãos me exibiam para TODOS os amigos, vizinhos e familiares:

- “Está é a Fulana, não é linda? Pois é, nasceu tão feinha, antes do tempo, doente, etc, etc”

Para complicar aumentavam todas as histórias da minha curta vida:

- “Aos 4 meses já tinha vários dentes; falou logo depois; andou antes do que qualquer outra criança da família; teve todas as doenças perigosas que existiam na época e sobreviveu à todas”.

E os ouvintes me olhavam, não se sabe se com inveja ou desdém. Mas, essa história me acompanha a vida inteira, acreditem.

Daí veio o período de aulas. Claro que, na visão deles fui um gênio, boas notas, elogios, melhor da turma, melhor da classe, melhor da escola. Na última formatura fui obrigada a participar ou minha mãe seria a mais infeliz da face da terra. Vesti a beca preta, tamanho único, sem graça, e igual a todo mundo. Fiz maquiagem, tirei fotos, e caminhei bambeando, de salto alto, no palco para pegar meu “canudo” sem sair correndo.

Haja sacrifício para corresponder a toda essa “propaganda enganosa”. E o tímido cresce, aliás, como os “não-tímidos”. Daí corajosamente você arruma um namorado. Talvez, não aquele que todas as suas amigas queriam e muito menos o príncipe encantado capaz de fazer a princesinha da mamãe feliz.

Mas é o que lhe cabe. Aleluia!

Namoro vai, namoro vem e, upa, resolvem se casar.

A tímida, é lógico, quer algo discreto só você, ele, e suas mães. Nada! O mundo, inclui-se aqui o noivo, resolve que terá uma cerimônia religiosa com vestido de noiva e tudo mais que “você” sonhou.

E lá vai você caminhar por quilômetros de tapete vermelho, com todos em pé olhando pra sua cara meio borrada, sorriso amarelo e tremendo como vara verde. Quando chega ao altar ainda resta algumas flores do buquê natural com o qual você iniciou aquela “via crucis”.

Pensa que acabou? Não. Vem a festa. Tudo que um tímido almeja na vida. Você circula entre as mesas, sorri, faz poses para fotos e fala com todo mundo: conhecidos e desconhecido. Sabe aqueles famosos convidados de não sei quem?

E ainda tem as situações sociais: reuniões profissionais, testemunhos na igreja, palestras, festas de confraternização, etc. Nas quais você esquece o assunto, gagueja, troca os nomes, faz piadas sem graça para disfarçar e por ai vai...

Hoje, por exemplo, estive no aeroporto e enquanto esperava observava a saída de desembarque. Uma realização para os tímidos. A porta abre e fecha, de tempos em tempo, e os familiares do lado de cá, gesticulam, acenam, chamam as pessoas e, os mais empolgados, já começam a registrar a chegada com fotos tiradas com o próprio celular.

Nessa situação, em particular, eu tenho duas reações:

1 - se estou desembarcando, e sou alvo desses fãs clubes, fico indecisa se pego as malas ou se me jogo na esteira e deixo ela me levar.

Como não tem jeito, venço essas “crises de timidez” e de mala em punho caminho pelo corredor entre a animada torcida dos que viajam até encontrar meu parente ou amigo e fujo dali torcendo pra ninguém ter prestado a atenção em mim. Já que tem tantos personagens em cena.

2 - se vim esperar alguém, fico distante das torcidas organizadas e procuro não me esconder entre as malas dos passantes. Fico com vergonha da vergonha que o povo ta passando. Disfarço, ando daqui pra lá e conto os minutos no relógio. Na mente um único pensamento: “Tomara que Cicrano me veja, não faça escândalo, não queira tirar fotos com o celular e esteja desesperado para sair correndo daqui.”

Sendo que, esse “aqui” inclui: aeroportos, rodoviárias, shoppings e afins. Ou seja, qualquer lugar onde não poderei ficar invisível, senão quem eu espero não me verá e terei que ficar mais tempo correndo perigo.

Bem, mas agora chega! Já estou ficando vermelha de tanto falar e rir de mim.

Beijos.

Etelvina de Oliveira
Enviado por Etelvina de Oliveira em 16/01/2010
Código do texto: T2033713
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