MAIS OU MENOS




                                             Sempre busquei um tipo de raciocínio bem intelectualizado que me convencesse ser desnecessário fazer as três perguntas existenciais que nunca querem calar. São elas: Quem sou eu? De onde vim? E para onde eu vou? A minha intenção é óbvia, pelo menos para mim: não ingressar na “tribo” dos existencialistas, que não podendo responder a essas questões, entram em desespero e dizem, então, que a vida é um absurdo total e que estamos todos condenados a uma angústia existencial, que só termina com a morte.

                                           Claro, já adianto aos meus leitores, evidentemente, que também não sei responder a essas questões, digamos, transcendentais! Existem, sim, respostas místicas e mesmo religiosas, mas aqueles de índole racional e indagadora ao extremo, estas explicações, que entram no terreno quase da mágica, não conseguem convencer. Diante disso e não tendo coragem para enfrentar de peito aberto essas velhíssimas questões, sempre procurei ter o respaldo de alguém de peso que disesse simplesmente que essas perguntas não têm respostas e, principalmente, que não precisam ser respondidas, com toda a convicção e sem medo de ser feliz, como diria o poeta.

                                               Não é que, finalmente, encontrei o cara que não quis responder a essas três interrogações, e que não deu a menor bola para isso, dizendo solenemente que teríamos de tratar do homem na terra e que as coisas do céu ele desconhecia e não estava interessado. Deveríamos, isso sim, tratar de fazer o paraíso na terra. Esse homem foi Confúcio, cuja doutrina, cem por cento terrena, serviu de base para a educação chinesa por dois mil anos. Confesso que vibrei com esse achado e já posso,cheio de coragem, abandonar a tribo dos existencialistas, como Sartre, Becker, Camus e outros menos votados.

                                          Rememoro esse tipo de coisa por ter vivido a época trágica pós segunda guerra mundial, provocando a desconfiança dos valores humanos e do mundo em que vivíamos, dando origem ao nascimento dessas filosofias niilistas e bastante negativas.
                                          E acabei respirando o espírito da minha época. Não havia meio termo, o homem não tinha valor e até a sua identidade era posta em dúvida. Tanto, que o filósofo espanhol Ortega y Gasset , ao ser abordado na rua por uma senhora que lhe indagara se ele era o Ortega y Gasset, o filósofo respondeu, sem pestanejar : “Mais ou menos”.

Gdantas