O meu nome é Duquan. Na verdade eu nem tenho nome. Era Duquan quando andava na escola. Na aula do Mr. Prez eu era Duquan. Deixava-me trabalhar com o computador. Mais ninguém era capaz de mexer na máquina. Só eu, o Duquan. Para Mr. Prez eu era o Duquan. Era meu amigo e levava sempre sanduíches extra para o meu almoço. Gostava de almoçar, de não sentir a barriga a resmungar de fome. Nesse tempo eu era Duquan. Podia usar o duche no balneário da escola. Já ninguém me insultava por andar sujo. Todos sabiam que eu era o Duquan.
Um dia a directora disse que eu tinha sido promovido socialmente por ter quinze anos. Assim tinha de ir para o liceu. Deixei a escola. E o nome. Agora estou na esquina. Não faço grande coisa pois este negócio não é para mim. Ou eu não sou para este negócio. O meu amigo é o chefe e faz-me o favor de me deixar estar aqui neste canto. Enquanto espero. Não tenho músculos. Não tenho perfil de líder. A informática ficou na sala de aula. Mas não posso voltar atrás. Fui socialmente promovido para o limbo. Não tenho idade para ter um emprego. Não tenho tempo para esperar ser crescido.
Aqui na esquina tudo passa a correr. Os outros passam num carro a alta velocidade disparando a matar. Escondo-me por uma noite. Por duas. Mas não tenho tempo para esperar até ter voltar a ter nome.
Sonho com o passado em que eu era ainda o Duquan. Transito na esquina tentando aguentar a vida até que o futuro venha. Tento esconder-me neste ângulo. Passar despercebido. Para que me batam menos. Para que não me alcance alguma bala perdida.
Queria inventar uma ponte que levasse directamente para um outro momento. Para um lugar onde ouvisse vozes chamando-me Duquan outra vez. Queria que estas duas ruas se desencontrassem para sempre. Desejava matar a minha esquina.


Nota: Este texto é inspirado numa personagem da série da HBO para TV chamada "The Wire"
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 21/01/2010
Código do texto: T2042525
Classificação de conteúdo: seguro