NO CONSULTÓRIO

-Bom dia!

-Bom dia, não; já é boa tarde.

-Veio cuidar do joelho, como eu?

-Estou cuidando dos dois, faz tempo.

-Vai fazer cirurgia?

-Já fiz duas em cada joelho e tenho que vir aqui, fazer aplicação, toda semana. E o pior que moro muito longe.

-A senhora veio de ônibus?

-Não, meu marido me traz de carro.

-O meu também me leva para todo lado.

Mas quatro cirurgias é demais. Tenho pena da senhora.

-Eu não me importo com isso.

-A senhora se importa com quê?

-Com a bengala.

-B-e-n-g-a-l-a?!

-É. Andar com este negócio é uma coisa horrível.

-Quando quebrei o tornozelo, andei de cadeira de rodas e de bengala. Realmente, não é muito agradável, mas fazer o quê?

-Eu não gosto, porque bengala me faz ficar com o bumbum enorme.

-Por que não faz regime?

-Ah, minha filha, na idade que estou, como de tudo e um pouco mais.

-Foi muito bom conversar com a senhora. Agora tenho que ir.

-Vá com Deus.

-Vocês também vão com Deus e façam uma boa viagem. Que Deus te ajude a não precisar usar bengala.

-Amém. Deus te ouça.

-Ou, se precisar, que Ele te dê a graça de fechar a boca.

Tchauzinho!