HONDURAS - UM GOLPE NA DIPLOMACIA MUNDIAL

Em 27 de janeiro último assistimos estarrecidos ao triunfo do um golpe, quando os culpados também foram inocentados e perdoados juntamente com os inocentes. Com grandes demonstrações de boa vontade, querendo apaziguar o país, que sofre profunda crise desde o golpe de estado que derrubou seu presidente, Manuel Zelaya, eleito legitimamente em 2005, tomou posse como novo mandatário o conservador Porfirio Pepe Lobo, eleito em 19 de dezembro último numa eleição marcada pela truculência de um autoritário governo de fato, presidido pelo empresário e ex-presidente do Congresso Hondurenho, Roberto Micheletti. Este, satisfazendo a vontade dos empresários hondurenhos, juntamente com o legislativo, o judiciário e as forças armadas, depôs e expulsou do país o presidente constitucional por sua tentativa de convocar um referendo popular com o fim de mudar a Constituição e permitir a reeleição.

Manuel Zelaya, porém, retornou clandestinamente do exílio em 22 de setembro último com o apoio integral da OEA (Organização dos Estados Americanos), UE (União Européia), ONU e EUA, que exigiam sua imediata restituição no poder. Todavia, embora as sanções econômicas impostas e o bloqueio da ajuda econômica, que fizeram aprofundar ainda mais a miséria do país, além do isolamento diplomático e as pressões dos presidentes de quase todos os países do mundo, condenando o golpe e o desrespeito a Constituição e democracia daquela nação, os golpistas não cederam e, do contrário, seguiram em franca afronta a autoridade e pressão internacional, inclusive ameaçando desrespeitar a imunidade da embaixada brasileira na capital Tegucigalpa, onde o presidente deposto esteve abrigado sob violenta ameaça desde o seu retorno até 27 de janeiro, quando, após a posse do novo presidente, foi escoltado pelo mesmo juntamente com o presidente da República Dominicana ao avião presidencial do mesmo, no qual deixou o país.

Nos últimos dias, querendo amolecer a pressão internacional, o Ministério Público hondurenho, co-autor do golpe, encaminhou denúncia crime contra a o comitê das forças armadas hondurenhas por terem expatriado o presidente. Todavia, até 27 de janeiro o Supremo Tribunal de Justiça já os tinha inocentado, também como demonstração de boa vontade para com a conciliação nacional. Quanto ao presidente deposto, Manuel Zelaya, após a posse de Porfilio Lobo pôde sair da embaixada brasileira por causa do salvo conduto concedido pelo presidente recém empossado e beneficiado com alei de anistia aprovada horas antes pelo novo legislativo, perdoando todos os envolvidos no golpe, tanto os crimes políticos quanto os comuns praticados antes e depôs do mesmo, como abuso de poder, uso de violência, estupro de mulheres e crianças, entre muitos outros denunciados em 26 de janeiro último pela Anistia Internacional. Todavia, segundo o mesmo Supremo Tribunal hondurenho, os crimes políticos do presidente deposto foram perdoados, mas os comuns que pesam contra ele não serão dissolvidos, sendo ainda que terá que responder por eles.

O que ficou claro, porém, em todo esse processo, é que, em primeiro lugar, os EUA não têm mais opinião preponderante na política da América Latina. Em segundo lugar, que nem todos as nações do mundo juntas são capazes de impedir o que ninguém mais quer, que é usurpação do direito geral em favor dos interesses dos donos do poder econômico. Em terceiro lugar, que nenhum pais daqui para frente está livre de tornar-se vítima de um golpe de estado, cujos crimes serão francamente perdoados se os golpistas conseguirem sustentar-se na posição.