NUNCA VAI DAR CERTO

A amargura está em minh’alma ultimamente... E a agressividade se alojou em minha boca e em minhas mãos... Estou me sentindo mal... muito mal...

Não consigo conversar os meus desagrados, não consigo ponderar as minhas determinações. Quero o imediato, a aceitação incontest, e quem me rodeia nunca vai me entender, vai repetir comigo o mesmo dilema que vivenciei com minha mãe...

Eu sei como vai ser... e não consigo evitar, mudar as coisas... os rumos... os resultados...

Estamos em mal-estar... nossas falas não tem eco nem brilho, nossas presenças se repelem , nossos sorrisos se fecham. Eu, certa pela metade , espero que ela tome a iniciativa, sou eu o esteio, ela sabe disso... e tem que se curvar...Ela, certa pela metade, espera que a iniciativa seja minha, confia que os meus anos de vivência me orientem e me faça reconhecer e reparar o erro do descontrole. Sei que é assim, já passei pela segunda situação, agora vivo a primeira...intensamente...

Adolescência e maturidade jamais poderão conviver em harmonia... nunca vai dar certo...

Sinto saudades de minha mãe... e queria ter a oportunidade de dizer a ela que hoje eu sei e entendo o porquê das agressões que sofri na adolescência e que me doeram tanto, que afastaram-me dela sem que eu pudesse fazer nada ...

Hoje sinto esse vulcão em minha pele, filtrando meu sangue pelos poros... essa sensação de explosão permanente...esse medo de fechar os olhos quando o coração está batendo assustado no peito e sai do ritmo certo, e bomba em eco nos ouvidos da gente, como quem mudou de lugar sem aviso... Hoje sinto essa sensação de falta de equilíbrio constante, o chão em ondas, as mãos e pés gelados, a sensação de umidade na intimidade , o ardume no baixo ventre e a impressão de ter a cabeça no sol do deserto e as extremidades caminhando pelos pólos da terra.

Hoje eu anseio pela solidão, e me tranco em meu quarto , quero meus discos, minha caneta, e meus pensamentos...Mas mantenho a atenção colada na porta, a audição no fio da voz dela que me chega misturada com outros sons... ansiando que ela venha falar comigo, que me abrace, que me perdoe... Mas ao mesmo tempo... divide o meu coração o medo de uma reação inesperada de que ela não reconheça a sua parte no erro e que isso me provoque uma nova explosão , uma nova ira...

Adolescer é enxergar em si própria as melhores soluções para os maiores problemas...Maturizar é enxergar novos problemas nas melhores soluções.

O que me dói... é que ela não terá tempo para me abraçar, me perdoar, e dizer que me entende... O ciclo vai se repetir... E quando ela estiver buscando a solidão, vai sentir saudades de mim, e tal como eu... lamentar profundamente ter perdido a oportunidade de abrir a porta e exorcizar os fantasmas.

O que me dói é que quando chegar esse dia , ela também estará com a atenção do lado de fora e solidão do lado de dentro, e talvez consiga sentir de mim, apenas a presença espiritual, tal qual sinto agora.

E a porta entre a adolescência e a maturidade estará fechada.

Marluci Brasil
Enviado por Marluci Brasil em 30/07/2006
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