NOVE HORAS DA MANHÃ, MEU FILHO E EU.

Nove horas da manhã. Finalmente trouxeram o meu filho enrolando numa mantinha azul, depois de sete dias na incubadora. Mal conseguia esperar por aquele momento tão sublime de ver o meu filho sendo tirado daquele lugar em que eu seria capaz de dar a própria vida para estar no lugar dele. É incrível como a vida é capaz de mudar as coisas, quando um serzinho desses tão frágil e tão pequeno se enrosca e se aloja no átrio do seu peito e você se enche de forças e de sonhos para defendê-lo a qualquer custo de tudo o que surgir pelo mundo só para que ele entenda que o seu mundo será o mundo em que aquele pezinho repousar.

É impossível imaginar o tempo que ainda levará até ver o meu filho correndo para mim. Qualquer espera torna tudo tão distante e tão demorado, mas sei que logo, daqui a pouco, o verei correndo de encontro a mim, e num rompante de velocidade e força o elevarei acima dos meus ombros e o farei girar como um cata-vento livre e contente. Quero ver ele sorrindo, abrindo os braços para me ter por perto, quero olhar atentamente para qualquer coisinha que aquele dedinho apontar só para chamar a minha atenção. Quero deitar no tapete da sala, espalhar brinquedos pelo chão, brincar de fazer desenho em nuvens, de conversar sobre seus planos, dos mais simples aos mais ousados como aqueles de construir uma nave espacial bem gigante para a gente sair por ai visitando planetas. Não é fácil para nos que somos obrigado a mudar o curso do destino e aprumar a vela para uma aventura nuca antes experimentada. O sabor, o desejo de ser pai, nos coloca assim diante de um livro aberto cheio de gravuras para ver alguém tão pequeno colocar cores nele pegando com destreza os lápis de cera como um pintor diante da sua obra. Uva e vinho, trigo e pão.

Não, a vida é muito mais que isso. A vida é um lençol branco posto sobre a cama na manhã de sábado bem cedinho. Sobre ele deitam-se desejos de que vida seja diferente de tudo o que você já viu, de qualquer historia melhor de tudo o que você já ouviu, para pôr palavras melhores do que você já escreveu. Quisera Deus que meu filho viesse a esse mundo me dizer tudo o que eu ainda teria que aprender e todas as coisas que eu ainda serei capaz de criar só para ver esse alguém que acabara de chegar nesse mundo pudesse ser mil vezes mais feliz do que eu. Ainda vai demorar até que ele produza seus próprios sonhos, tenha seus próprios planos e anseios, mas até lá já me sinto satisfeito da escolha que fiz para tê-lo embalado em meus braços.

Hoje, logo cedo meu filho chegou junto à cama me acordou com um beijo no rosto e me pediu para que eu não demore a levá-lo para andar de bicicleta e antes que eu conseguisse lembrar daquele inadiável compromisso, ele se virou para mim e disse:

__ Pai você é o cara mais legal desse mundo.

E eu, sem ter palavras para pôr à boca, como se ainda houvesse alguma coisa a ser dita, depois de uma declaração dessas, o tomei em meus braços, fechei meus olhos e apenas desejei que Deus o protegesse dos sonhos impossíveis e o fizesse feliz.

Nove horas da manhã. De pés, meu filho e eu.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 30/01/2010
Reeditado em 06/09/2013
Código do texto: T2059749
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