Elaboração de textos

A Informática funcionou para mim como um segundo cérebro; bendito computador! Usando máquina de escrever, escrevia minhas histórias com tremenda dificuldade, principalmente, pelo meu preciosismo em relação à aparência dos textos. Contava rigorosamente as linhas e, nas mudanças de parágrafos, chegava a criar uma técnica especial, antigramatical, para não estragar a estética do texto. Sendo assim, meus textos antigos, não podem ser desprezados, pois, escritos em máquina elétrica, são mais interessantes do que o conteúdo. Na fase do computador, verifiquei a grande diferença de elaboração dos textos; antes, quando eu verificava um pequeno erro no material datilografado, entrava em desespero, pois, não havia solução possível para a falta de letra; uma letra fora do lugar, possivelmente, tinha solução com a fita de celulose, mas a falta de letra, exemplo: editora em lugar de história obrigava a refazer o texto integralmente; lógico que a falta de atenção é uma característica de quem escreve muito; às vezes, aproveitava os textos, fazendo um comentário sobre o erro, como aconteceu ao bater todas as letras em maiúsculas num período inteiro, numa pequena crônica. A vantagem do computador é extraordinária, pois, você corta, corrige, muda tudo num passe de mágica. Imaginem, se os autores de Romeu e Julieta, A Divina Comédia, Dom Quixote e outros, fossem do tempo do computador! Por outro lado, o computador estimula escritores bissextos, como eu, que poderiam compor uma antologia, semelhante àquela que Manuel Bandeira dedicou aos poetas bissextos.

Em relação à Internet - hoje me encanta a possibilidade de enviar textos de imediato e, inclusive, se for o caso, obter respostas às indagações que forem necessárias; sem contar a vantagem das pesquisas bibliográficas; eu sempre custo um pouco a me adaptar às facilidades oferecidas pelo progresso, lembrando o Sebastião Paiva, que em plena época dos aviões de carreira, repetia-me, que gostaria de subir para Juiz de Fora, numa carruagem, como nos velhos tempos de Brasil colônia; Sebastião vestia terno com gravata para recitar os poetas de sua preferência; lembro a ênfase especial que dava à Ingratidão, uma poesia de Raul de Leoni que muito o encantava.

Com a velha máquina de escrever eu levava muitas horas para elaborar meus textos, aborrecendo-me e limitando minha produção literária, o que não deixa de ter sido uma vantagem... Decorridos quatro meses de ter presenteado meu neto com meu livro - Notas Esparsas - ele me confidenciou que só havia lido três crônicas; perguntei-lhe quais eram e me referiu apenas duas; nessa marcha, calculo que levará 10 anos para ler o livro todo!