Vende-se esta casa

Quando eu passava por aquela casa sempre me espantava o grande número de gatos ao seu redor. Todos de uma mesma cor: Malhados. Robustos e satisfeitos esticavam-se ao sol.

A casa fica de frente ao asfalto da pista onde trafegam automóveis, ônibus, motos, bicicletas e até a peculiar carroça puxada pelo singular jumento.

O dono da casa havia montado uma enorme banqueta de cimento na parte frontal e a usava como uma espécie de mesa para ele distribuir seus peixes.

Eu o via na labuta matinal de limpar e arrumar uma enorme variedade de peixes. E os gatos o olhavam com os enigmáticos olhos amarelos pedintes.

A cena tornou-se costumeira. Porém jamais consegui deixar de me indagar quando me deparava com os referidos felinos. Devia haver no mínimo mais de dez gatos. Eu me perguntava como alguém tinha a coragem de cuidar de tantos gatos.

Os comentários diziam ser ele (o peixeiro) um amante desses animais. Os bichinhos eram abandonados e se achegavam a cada dele e ali permaneciam.

Passaram-se alguns anos e agora há uma placa enorme na casa. As letras imensas dizem: Vende-se esta casa. Os interessados, por favor, procurem Fulano de Tal.

Faz quase dois meses que a placa jaz estática e silenciosa na casa.

Inexiste qualquer movimentação do peixeiro ou de sua família. Todos os habitantes daquela residência partiram.

A casa está completamente sombria e abandonada.

Há algumas semanas atrás ainda vislumbrei mais ou menos uns três gatos malhados rodeando a casa. Estavam esquálidos e tristes.

Hoje não se vê mais um gato sequer.

Engraçado como as coisas mudam e tudo se modifica. O que existe nesse momento, certamente amanhã não existirá.

É o ciclo interminável das situações e do cotidiano em nossa vida.

Creio que peguei na caneta para escrever essa crônica por que senti vontade de desabafar um sentimento incômodo que se apoderou de minha pessoa. Escrevendo eu consigo fazer as pazes comigo mesma, encerrar o assunto e aceitar esses ditames da existência.

Não sei o que ocorreu com o peixeiro e sua família e tão pouco com os inúmeros gatos malhados. Sei apenas que nessa roda-viva contínua somos obrigados a reconhecer que tudo é passageiro e efêmero.

Se felizmente ou infelizmente, isso nem o tempo nos dirão.