VERDADEIRO TEMPLO DOS MILAGRES

(baseado em fatos reais)

Deu na imprensa que em São Paulo surgem cerca de duzentos novos templos religiosos ao ano.

Logo, logo haverá mais garagens evangélicas que barzinhos ao redor de faculdade...

Por que a comparação?

Porque ambos fazem um barulho insuportável, por exemplo?

Porque nenhum costuma ter alvará de funcionamento?

Tem uma diferença marcante.

No templo pagam antes para obter promessas e no bar prometemos pagar depois.

Ma, viene qua, dio mio!

Não está na hora de mandar outro bambino para derrubar templos de falsos profetas?

Tudo bem que outro dia caiu um teto da Igreja dos pastores que ficaram em cana nos Estaites. Mas só isso?

Quem avisa amigo é: Ficará desacreditado, oh, painho!

Ficam prometendo miraculosos em seu nome e depois sabe quem vai pagar o pato...

Quando os consumidores caírem em si, vão dizer que o carnezinho do dizimo foi aí pra cima...

Já estão botando a culpa no síndico, seu Pedrão, por causa do aguaceiro na cidade.

Na semana passada abriu um desses templos em frente a oficina do Chico, mecânico do bairro.

Mecânico de primeira. Achava de ouvido defeitos no motor.

Contou-me que não está escutando mais nada quando ligam o som da garagem da fé.

Coitado! Justo ele que não é de por os pés em igreja...

Exceto para casório, batizado... Essas coisas que mesmo comunistas italianos como ele praticam...

Ia reclamar na Prefeitura, mas a mulher dele converteu-se e é evangélica de outra fé e disse que deus castiga.

De nada adiantou argumentar que é ele que agüenta a penitência.

Homem que eu levava fé, estava ali!

Onipresente, salvou-me da aflição em muitas ocasiões.

Quantas vezes apareceu, atendendo meu pedido, quando meu velho Passat quebrava nas mais estranhas quebradas.

Sem contar os consertos sem ver o carro.

Olha se não é a vela que apagou!

A mangueira não está rasgada?

Tem gasolina?

Tinha também o poder da premonição...

A correia dentada vai quebrar. Ou: vai ficar sem embreagem...

O Chico era que nem a conta do bar. Primeiro ele fazia o milagre. Ficava na promessa de receber, sem nunca se negar a novos milagres a quem cometia o pecado do esquecimento...

Entre um grito e outro do pastor, deu tempo de rir...

Ele falou que estava seriamente pensando em mudar o nome de sua oficina de “Oficina do Chico” para “Templo do Senhor Chico”.

Acha que rende mais e quando precisar de silêncio é só pedir...

Milagres não lhe faltam...

Isso, já dei meu testemunho.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 05/02/2010
Reeditado em 05/02/2010
Código do texto: T2070931
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