Alguns minutos de observação na avenida

Eu vi um menino. Na verdade, um jovem rapaz. Ele tinha os olhos da cor de uma poça d’água depois de uma tarde de chuva. Tinha os cabelos encaracolados e era esguio. Era um rapaz desprovido da beleza tola que o mundo exige e aceita.

Ele caminhava sorrindo, embora estivesse solitário. Seu sorriso era triste. Seu olhar era vazio como se procurasse por algo que o preenchesse. Ele caminhava rápido como se tivesse pressa. Era o que eu achava até que algo aconteceu: um carro lotado passou por ele na avenida em que se encontrava. E os estudantes que lá estavam começaram a chacoteá-lo.

A pressa passou e o rapaz voltou-se para trás e fingiu que esperava por alguém. Ele tinha vergonha de sua condição. Tinha vergonha do que ele era. Não conseguiu gritar para ele mesmo: eu posso! Este sou eu, é assim que sou... Pelo contrário, sua alma calou-se e fez silêncio profundo.

Eu não sei seu nome, talvez nunca saiba. Só sei afirmar com toda certeza que o mundo é como uma grande peça de teatro. Uma peça essencialmente trágica em que os papéis foram mal distribuídos.

Você pode ser um bom ou um mau ator, você pode pegar um bom ou um mau papel, infelizmente você pode ter o azar de não pegar o papel ideal para você. E isso é que se chama de triste hora. O momento em que o ator vacila sua hora no palco. O momento em que vacilamos nossa hora na vida.

Cabe a nós desistir ou não da nossa “atuação” terrena, porque a peça deve prosseguir. Podemos nos regozijar com os aplausos ou simplesmente terminarmos com escarnecimentos.

Joseane Cavalcanti
Enviado por Joseane Cavalcanti em 10/02/2010
Código do texto: T2080323
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