ESTRANHAS RELAÇÕES - A vizinha

Precisava me mudar. Questão de logística.

Depois de horas empregadas em leitura de classificados, incotáveis telefonemas e algumas visitas frustradas, meu problema foi resolvido pelo acaso.

Em um almoço solitário, num restaurante lotado, pedi licença para sentar à mesa junto a uma jovem, também desacompanhada. Ela sentiu-se confortável na minha companhia, e em poucos minutos já estava me contando confidencias da sua vida. E, no último desabafo depressivo declarou: "Só venho almoçar aqui porque fica perto de casa".

O destino deu uma piscadinha para mim! No mesmo dia fui conhecer o local, no seguinte assinei o contrato e no outro fiz minha mudança. Morei ali por sete meses.

Quando saí, em um daqueles momentos nostalgicos, comecei a refletir... Em poucos minutos a moça confiou-me segredos que garantia não ter aberto a mais ninguém; eu era uma desconhecida, e ela "abriu seu coração".

E, para contrastar, durante todo o tempo em que morei ali, o contato mais próximo que tivemos foi o conveniente "bom dia" de quando nos encontrávamos na entrada do prédio; eu era uma vizinha, e ela se esforçava para ser cordial.

Estranhas relações...