MANIFESTAÇÃO A FAVOR DA DIVERSIDADE POÉTICA

Temos, geralmente, uma polêmica em torno da publicação de um livro de poemas (e não de poesias - que é um conceito abstrato). Qual o caminho melhor para publicá-lo? Qual a “suposta” forma de agradar o editor e não encalhar o livro nas prateleiras do depósito da Editora? Qual o tipo de poética de valor? Por que escrever em linguagem moderna e não a partir de modelos clássicos? E vice-versa...

Vejo, como caminho inicial da discussão o entendimento que qualquer posicionamento do fazer poético é subjetivo. Para cada autor, uma escola poética pode chamar mais atenção: certos poetas preferem o Simbolismo Literário, outros a Poesia Moderna, uma parte aceita com naturalidade as duas vertentes e destes, alguns transitam entre as duas escolas quando escrevem. Outros transitam por todas as possibilidades poéticas já criadas.

O poema é uma criação do homem. Deus nos facultou a Poesia: através de um sopro Divino, dirão alguns; e outros dirão, ela nos vem por acaso, é resultado do acaso. Ainda há os que dirão se tratar de uma ação concreta, sem intermediação do subjetivo. Muito antes da manifestação concreta da Poesia: o poema, ela já se manifestava nos homens, que a partir da escrita puderam transpô-la ao papel.

Em cada período literário, autores mais expressivos ditam determinadas regras do “bom poetar” (Tratados Literários), são instrumentos de direcionamento, ao escritor, para realizar um poema, que, segundo os criadores desses tratados, levará o Poeta ao bom poema. Existem inúmeros exemplos de Tratados Literários, citemos dois, entre eles um clássico: “Tratado de Versificação”, do ano de 1905, escrito por Olavo Bilac e Guimarães Passos; e outro moderno: “Poética: Como Fazer Versos” de Vladimir Maiakóvsky, do ano de 1926.

O simples fato de seguir estas regras dos Tratados Literários, o encaminhamento proposto pelo autor destes textos de como realizar um bom poetar não significará um bom poema realizado. Geralmente, os melhores escritores de Poesia são os que mais independentes estão em relação ao cânone de regras de uma Escola Literária. (um adendo, as regras são criações humanas - elas não existiam quando da descoberta da Poesia pelos primeiros poetas - tanto é, que a Ilíada de Homero, um dos primeiros poemas da Antiguidade Clássica, dos que chegaram até nós, não é uma construção poética com RIMAS - a rima veio bem depois, já na Era Cristã.)

É totalmente errônea a idéia de que a Poesia possa ser fundada em conceitos rígidos, que ao olhar de um determinado crítico, é a única maneira de se conceber uma Literatura de qualidade, um poema expressivo. E por que é errado pensar assim? Porque cada pessoa tem uma opinião sobre o que lê. Afinal, interpretar um texto não é uma ação mecânica apenas, o subjetivo também conta. Quantas vezes um poema não diz nada para nós e alguém se vê espelhado nele? Muitas vezes ocorre assim. POR QUE EXISTIRIAM ESCOLAS LITERÁRIAS SE SÓ UMA CONCEPÇÃO DO FAZER POÉTICO É A CERTA?

A qualidade literária, para toda pessoa, é subjetiva mais do que tudo. Para alcança-la com maior precisão é necessário a junção de pelo menos quatro elementos: sentimento humano, leitura dos grandes poetas da Literatura Universal de todos os tempos literários, conhecimento literário - regras do fazer poético: clássico e moderno -, conhecimento da Língua Portuguesa em sua variante culta e popular. Nota-se porém, que estes conhecimentos não são iniciais, necessariamente, nos poetas, em quase todos, adquiri-se com o passar dos anos.

É importante lembrar que se uma pessoa tiver como DOM: a Literatura, ela pode manifesta-la sem sequer saber escrever a palavra Poesia com S, escrevendo-a com Z. Lembremos, é muito mais fácil consertar um poema escrito num Português distante da norma culta: com criatividade, com valor sentimental do que corrigir um poema, onde o autor não possui o DOM para a Poesia, mesmo com a escrita corretamente dentro da norma culta do idioma e do(s) Tratado(s) Literário(s), conceitos para se chegar ao “bom poema”, do seu tempo de escritor.

Mesmo que alguns escritores tenham mais aptidão para o fazer poético é importante o respeito para com a escrita de todos. Todos têm o direito de escrever e é bonita esta manifestação poética dos sentimentos humanos, sempre! Nós não escrevemos para publicar um livro, esta pode ser a consequência de nossa atividade com as palavras; escrevemos para desnudar um mundo interior que nos aflige e para desmascarar as mazelas do mundo exterior, também escrevemos, para expressar momentos de intensa alegria ou de inconsolável dor. Cada pessoa terá seu motivo maior para escrever. E nos poetas verdadeiros, será o motivo, a necessidade e não o lucro, por se adequar ao possível editor. Reiner Maria Rilke, poeta alemão, em Cartas a um Jovem Poeta (cartas escritas entre 1903 e 1908 destinadas ao jovem poeta alemão: Franz Xaver Kapus), nos pede para escrever somente por necessidade, não é lindo esse pedido?

Quem escreve moldando suas composições para serem aceitas por um editor e seu suposto público, poderá estar, falseando a si mesmo e se desvalorizando. A Literatura não pode ser refém de nenhuma regra, de nenhum editor, de nenhum “suposto leitor”; ela deve ser livre e ser dado o direito a cada Poeta da escolha de qual caminho seguir! Havendo parâmetros de escolhas e DEMOCRACIA EDITORIAL, os melhores, independente de escolas, serão publicados e sem precisar moldar-se ao mercado editorial.

Por que a Poesia Moderna seria melhor que um Soneto Simbolista do final do Século XIX? e vice-versa... Quem pode afirmar que o caminho A é mais vendável que o caminho B? Quem venderia mais, se estivessem expostos numa mesma prateleira para se levar um deles para casa: Augusto dos Anjos (Poeta Clássico) ou Fabrício Carpinejar (Poeta Pós-Moderno)? Certamente, Augusto dos Anjos e ele fez Poesia Clássica de grande expressão poética, e dentre seus poemas, muitos Sonetos! E vende mais, porque é mais prazerosa a leitura e de maior valor literário/sentimental - e estou considerando aqui uma hipotética sociedade brasileira, onde, o nível educacional dos brasileiros fosse alto. Tenho convicção, que numa sociedade mais evoluída o Augusto dos Anjos daria de goleada no Fabrício Carpinejar, não é desmerecimento da obra deste, mas pela beleza dos poemas daquele. Da mesma forma que um livro da Moderna Cecília Meireles venderia bem mais que um livro de um poeta parnasiano, que seguisse 100% a risca os conceitos poéticos do Parnasianismo clássico - quantos poetas parnasianos nem sequer foram citados em enciclopédias de autores de literatura, não é verdade?

Uma verdade: nós não somos máquinas frias, temos sentimentos, alma que pulsa, sofremos, vivemos a Vida em constantes inquietações interiores. Somos subjetivos sim! E a razão não comanda nossa Vida, só se formos escravos do Sistema, o que bem quer os que preferem nossa frialdade em busca de nos dominar e manter o status quo! Para qual Editora trabalha a pessoa que nos ensina caminhos para ter sucesso na publicação de um livro? Que interesse tem a editora que irá publicar um livro em moldes pré-estabelecidos? Qual a visão de mundo dessa editora de livros? Quem a financia? Nada está dissociado... Tem sempre uma razão, um interesse subliminar, por detrás dessas idéias de como obter sucesso na carreira Literária e em qualquer outra área.

Quem quer ser Poeta e de valor deve desprender-se de preconceitos e buscar um conhecimento amplo! Ser capaz de trafegar entre o Clássico e o Moderno, amar Poesia, amar os Poetas, gostar de ler poemas em uma grande quantidade e saber assimilar o bom de cada período literário; deve saber se emocionar com os poemas que falam de Amor e deve se indignar junto, com a imagem retratada em um poema social.

Abaixo o preconceito contra os poetas que não seguem a cartilha A, B, C ou D, etc. Diversidade é bom e saudável. Não existe ditadura literária, não existe o bom ou o mau poema, existe sim, a impressão particular sobre cada Poema lido. Que se publique autores do mais variado estro, da mais diferente escola, temática e forma de realizar o poema, seja, poeta concretista, pós-moderno, simbolista, árcade, modernista, parnasiano, etc., porém, lutemos para que os mais valiosos e preparados sejam mais valorizados e ocupem um lugar de destaque no cenário literário e nas prateleiras das livrarias. É Ética esta luta e justa com o público leitor!

Existe espaço para todos. Respeitemos as diferenças de gosto literário e evitemos propagar preconceitos literários, estes são prejudiciais, ao jovem poeta. Tanto o preconceito contra a Poesia Clássica e contra a Poesia Moderna inibem o crescimento de qualquer poeta... Todo conhecimento é pouco diante da diversidade de idéias e concepções literárias existentes no Mundo, desde sempre! Aprender sempre faz-se necessário, ser humilde aprendiz é ser um poeta com capacidade de mudar o mundo, de mudar a si mesmo e de realizar uma Literatura prazerosa de ser lida por quem ama a Poesia!

Viva a Poesia Retrô! Viva a Poesia Pós-Moderna! Viva a diversidade Literária!