Dizem que as grávidas tem um certo brilho no olhar, uma certa aura que as envolve e denuncia o seu estado de graça. Comigo aconteceu. Mas ao contrário da maioria não perdi essa luz com o parto. O meu rosto continuou reflectindo um fulgor que já não estava dentro de mim. Eras tu que me iluminavas. A minha Estrela.
Com três anos, um dia, à hora da sesta, disseste-me: “ não quero dormir. Estou feliz e as pessoas felizes não dormem.”
Assim foi pela vida fora. Dormias muito pouco. Pintavas telas a óleo, fazias desenhos a carvão, escrevias poemas e compunhas música na guitarra. Mas a tua maior paixão era a dança.    A arte à qual te entregavas com maior esplendor.           
Nas vésperas dos espectáculos não pregavas olho. E nos grandes dias eu lá estava com a minha cara de Lua Cheia inundada pela luz prateada da bailarina mais linda do mundo, toda orgulhosa.
Quando o acidente te levou a minha cara, tal como a minha alma, minguou.
Passei muitos anos a dormir. Até que um dia, numa noite de céu estrelado como hoje, vim ao terraço e senti que o mais reluzente astro estava afagando-me a cara. Fiquei em Quarto Crescente observando a tua dança sideral.
Desde então as noites estreladas são as que passo sem dormir. Vejo o espectáculo do firmamento e sou feliz outra vez.
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 18/02/2010
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