Balanço de Carnaval

Balanço de Carnaval

Pessoas que gostam de escrever (amadores ou profissionais) expressam, nestes dias pertinentes, suas idéias (catarse ou não) sobre os festejos de Momo.

Velhos carnavais! Novos carnavais! Quem te viu e quem te vê! Não, não é apenas saudosismo ou simplesmente reminiscências nostálgicas. É uma tentativa de elencar um paralelo, uma analogia entre velhos e novos carnavais.

Há pouco tempo, uma minissérie televisiva focalizou a vida de uma das “divas” da era do rádio brasileiro. A geração atual que teve a oportunidade de acompanhar os capítulos dessa minissérie tem, portanto, algum material arquivado na memória humana ou na memória tecnológica. Assim, conheceu um pouco da magia (e/ou problemática ) da era de ouro do rádio , neste país, e o que rolava por trás dos bastidores, assim como as músicas carnavalescas que “bombavam” (no dizer de hoje).

Os palcos iluminados recebiam as grandes vozes orquestradas através de Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Marlene, as irmãs Linda e Dircinha Batista, dentre outras celebridades, que apresentavam marchinhas de carnaval e sambas que se perpetuaram aos dias de hoje nos blocos da terceira idade, aos quais, se integram, também, jovens casais .

De “Jardineira que estás tão triste”, “O teu cabelo não nega, mulata”( não se faz mulata como antigamente, hoje elas usam chapinha),”Guardo ainda, bem guardada a serpentina”, “Chiquita bacana”, “Sassaricando”, “Alá, lá, ô, ô,ô,ô...” “Cadê Zazá, Zazá, Zazá / saiu dizendo vou ali e volto já” e tantas outras músicas ingênuas para a época atual, passamos a ouvir “Bota a mão na cabeça que vai começar o rebolation “ ou o lobo mau dizendo “vou te comer” .“Na base do beijo” não fica só na música porque dançam ao som dos trios beijocando (e algo mais) a toda hora. Foliões querendo um vale night pra valer e pedindo pra botarem u’a mão no guidom da bicicletinha e outra mão na calcinha.

Não aparecem mais nas letras das marchinhas carnavalescas referências que eram comuns como à sogra (era quem recebia o maior ataque)-“malandro foi pai Adão/nunca teve sogra”; à cachaça-“você pensa que cachaça é água...”; a Adão- Papai Adão, Papai, Adão...”

Os abadás ,de preços exorbitantes, substituem as fantasias no carnaval da Bahia. No interior, ainda se vê, aqui e ali, columbinas e pierrôs, alguns palhaços, bailarinas e fantasias de borboleta, anjos e diabinhos, porém, não resta dúvida, de que o reinado é do abadá (camiseta) que, agora, nem sempre vem acompanhada de short. Há muita criatividade no desenho dos abadás porque saem da fábrica sendo apenas uma camiseta e se transformam, pelos foliões, em modelitos mais variados , tirinhas, lacinhos, tomara-que caia e outros, através de mãos que entendem do assunto.

Rola de tudo no Carnaval.As barracas mais parecem festa de romaria e ostentam nomes inusitados: “Barraca do Lobo Mal”( que desastre ortográfico), Barraca Cabeça de Capeta, e até “Jesus veio para todos, mais (sic) pague seu dízimo”, com toda falta de respeito à religião.

Ainda bem que algumas serpentinas e confetes apareceram,certamente usados por foliões da terceira idade (porque os jovens até desconhecem), pisoteados pelas massa “em fúria”, como o estouro da boiada (sai da frente que lá vou eu ), resgatando assim a velha tradição carnavalesca. Ah, alguns se lembraram das belas máscaras (originadas do carnaval de Veneza) e as usaram.

“A água,lava, lava, lava tudo/ a água só não lava a língua dessa gente” ainda funciona, pelo menos na prática, já que não se canta mais essa marchinha. O lança-perfume, que era a coqueluche (e luxo) dos velhos carnavais (com cheiro forte, como éter, embalado em tubos de vidro ou metal, morreu. E olhe que qualquer embalagem de vidro agora é proibida (oficialmente?), mas há aqueles que burlam a vigilância e não aderiram à latinha. A cachaça se aposentou e foi substituída pela cerveja, que é consumida por nove entre dez foliões. Comerciais incentivam, pela mídia, o “ cervejão”, o “desce redondo” , entre outras semelhantes e disputadas.

A ressaca é presenciada por espectadores que fazem caminhadas nas manhãs e quadros deprimentes são fotografados por olhos argutos, que registram, desde aqueles que “ afogam suas mágoas” (chavão usado antigamente) na bebida aos que utilizam entorpecentes pelo (des ) prazer de “viajar. Pobre povo (que nem sempre é povo pobre)

que se esquece de que a miragem desaparecerá e a realidade será amarga para aqueles que extrapolam nos vícios e no bolso. A quarta-feira de cinzas chega encaminhando as madalenas arrependidas e os “judeus errantes” às igrejas para que sejam perdoados seus pecados. Será que são mesmo? Brinque “sem pecar”,então!

Por que não se divertir sadiamente ao embalo dos trios que nem sempre animam tanto, já que há algumas músicas sem letra e sem melodia. A galera nem se importa e cai na barulheira, confirmando a frase famosa “ atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, assim mesmo, para quem acredita, quem já morreu também vai, se quiser ou puder...

Não mudou, porém, apenas diversificado a cada ano, o belo visual dos desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio, riquíssimos em originalidade e luxo.Isso salva o carnaval . É uma beleza que encanta os milhões de olhos que assistem, ao vivo ou pela tevê, a esse espetáculo impressionante .

Assim, encerro este balanço para não me tornar enfadonha, porém deixo para você, eventual leitor,ditar a sentença: balanço positivo ou negativo para o placar Velhos Carnavais versus Novos Carnavais ? Você decide. E, se puder, caia na folia no próximo ano, mas brinque com responsabilidade.

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 18/02/2010
Código do texto: T2093934