A DOR DE SER FELIZ

Quantas vezes acordamos pela manhã ou vamos dormir à noite com este pensamento: sou feliz e é o quanto basta.

Vamos dia afora alheios ao que se passa à nossa volta ou dormimos todas as noites sem nenhum sobressalto.

Mas quando paramos para pensar seriamente no mundo que nos cerca, esquecemos o nosso estado de alheamento e percebemos quão egoístas fomos, já que os contrastes são imensos.

Enquanto rimos, há alguém que chora;

Enquanto enxergamos, há alguém na escuridão;

Enquanto falamos, há os que são mudos;

Se ouvimos os acordes musicais, o canto dos pássaros, o murmúrio das águas, as vozes dos nossos filhos, há alguém que vive no mais completo silêncio, sem que em seu sentido penetre o mais ínfimo som;

Andamos, corremos, dançamos, enquanto muitos não tem pernas;

Abraçamos nossos filhos, nossos netos, nossos amigos, enquanto muitos não tem braços.

Estamos sãos de corpo e mente, enquanto outros agonizam nos leitos dos hospitais ou estão confinados em hospícios.

Vivemos em casas confortáveis, enquanto outros não tem um teto que os abrigue;

Alimentamo-nos cotidianamente, enquanto outros morrem de fome;

Envelhecemos com conforto e dignidade, enquanto outros são desprezados e jogados em miseráveis asilos.

Depois de todas essas observações, começamos a sentir algo estranho, que vem lá de dentro do nosso ser, não sei se do peito, do coração, da alma ou da consciência e que vai evoluindo aos poucos, um tanto perturbador, um tanto aflitivo e num crescente alucinante invadindo os nossos sentimentos e nos prostrando, até que sentimos aquela dor, até então desconhecida, mas que agora bem identificamos: A DOR DE SER FELIZ, enquanto ao nosso redor existem pessoas desgraçadamente infelizes.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 19/02/2010
Código do texto: T2095490
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