A DOR DE SER FELIZ
Quantas vezes acordamos pela manhã ou vamos dormir à noite com este pensamento: sou feliz e é o quanto basta.
Vamos dia afora alheios ao que se passa à nossa volta ou dormimos todas as noites sem nenhum sobressalto.
Mas quando paramos para pensar seriamente no mundo que nos cerca, esquecemos o nosso estado de alheamento e percebemos quão egoístas fomos, já que os contrastes são imensos.
Enquanto rimos, há alguém que chora;
Enquanto enxergamos, há alguém na escuridão;
Enquanto falamos, há os que são mudos;
Se ouvimos os acordes musicais, o canto dos pássaros, o murmúrio das águas, as vozes dos nossos filhos, há alguém que vive no mais completo silêncio, sem que em seu sentido penetre o mais ínfimo som;
Andamos, corremos, dançamos, enquanto muitos não tem pernas;
Abraçamos nossos filhos, nossos netos, nossos amigos, enquanto muitos não tem braços.
Estamos sãos de corpo e mente, enquanto outros agonizam nos leitos dos hospitais ou estão confinados em hospícios.
Vivemos em casas confortáveis, enquanto outros não tem um teto que os abrigue;
Alimentamo-nos cotidianamente, enquanto outros morrem de fome;
Envelhecemos com conforto e dignidade, enquanto outros são desprezados e jogados em miseráveis asilos.
Depois de todas essas observações, começamos a sentir algo estranho, que vem lá de dentro do nosso ser, não sei se do peito, do coração, da alma ou da consciência e que vai evoluindo aos poucos, um tanto perturbador, um tanto aflitivo e num crescente alucinante invadindo os nossos sentimentos e nos prostrando, até que sentimos aquela dor, até então desconhecida, mas que agora bem identificamos: A DOR DE SER FELIZ, enquanto ao nosso redor existem pessoas desgraçadamente infelizes.