Saudades de você

Henrique, meu conhecido de longa data, era uma dessas pessoas agradáveis, de palestra edificante, sorriso fácil, sempre disposto a ajudar a quem dele precisasse. Muito estudioso, formou-se em engenharia pela Universidade de Brasília. Era um intelectual que de tudo dava conta. Conhecia o país de Norte a Sul. Não lhe escapava o mínimo da cultura regional dos vinte e sete estados brasileiros.

Obtive do Henrique muita experiência, extraindo do seu notório saber parte dos conhecimentos que hoje domino. Agradeço-lhe a paciência benevolente e o interesse desprendido em repassá-los a mim, um modesto “contador de estórias”. Hoje, gostaria de ter a pena leve, fácil e versátil para descrever a fluência verbal, as análises perspicazes, a agudeza de espírito e a inteligência incomum de que era dotado.

Toda vez que me disponho a escrever, lembro-me das generosas leituras que ele fazia dos meus escritos. Suas oportunas observações hoje fazem falta a este despretensioso escrevinhador.

Henrique, meu bom amigo! Estou saudoso!

Tanto tempo depois de teres partido, deixando vazio aquele pedacinho de balcão onde, de pé, bebericavas o teu uísque, lembrei-me de ti, do teu gesto inconsciente de alisar o cabelo antes de fazeres substanciosos comentários sobre os mais diversos assuntos. Nós te ouvíamos atentos e respeitosamente. Colhíamos preciosas informações políticas e econômicas do teu cabedal de conhecimento sobre esse Brasil impuro, do qual eras filho sem mácula, diferente do que acontece a determinado herdeiro, de triste passado e de vergonhoso presente.

Da tua agradável companhia, resta-nos, a mim e aos teus outros companheiros, a saudade dos descontraídos momentos passados no Bar do Cunhado, que perdeu a alegria de ser frequentado por nós, que não te esquecemos.

Não tiveste culpa no fatídico acidente que ceifou a tua vida, aos sessenta e dois anos. Vinhas do trabalho, cumprindo a fiel obrigação de suprir o sustento da família, quando aquele rapaz, um mancebo sem experiência no trânsito louco das estradas brasileiras, demasiadamente irresponsável, foi de encontro ao veículo que dirigias, matando-te instantaneamente.

Estavas a poucas horas de encontrar teus amigos no Bar do Cunhado, para aquele bate-papo desenvolto, compartilhado com a assiduidade de pessoas responsáveis em relação aos seus inadiáveis afazeres.

Morreste sozinho, naquela noite escura. Somente no dia seguinte, soubemos que tiraram a tua preciosa vida e nos deixaram órfãos de tua prazerosa presença.

Hoje, estou saudoso. Telefonei para alguns de nossos amigos, que manifestaram o mesmo sentimento de solidão. O Cunhado, o Marcelo, o Carequinha, o Jucier, o Divino, eu e tantos outros sentimos a tua falta. Às vezes, quando estamos postados ao lado do balcão em que costumavas ficar, imaginamos a tua figura saudável, a nos premiar com interessantes palestras.

Henrique, meu bom amigo! Estou saudoso!

Partiste, deixando vazios os nossos finais de tarde. A saudade nos maltrata, amenizada por sabermos que, por tua infinita bondade, foste acolhido por Deus, a quem pedimos por nós, que aqui ficamos neste mundo tenebroso. Tu já não precisas da proteção Divina; careces e mereces apenas a companhia desse Deus maravilhoso que, hoje, substitui a nossa participação em tua vida, agora eterna e santa.