Oração, penitência e caridade

A Quaresma é também conhecida como a Quadragésima. É o período que antecede a ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no domingo de Páscoa. Um tempo de muita fé, no qual a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e algumas igrejas evangélicas adotam estados semelhantes de comemoração. A Quaresma talvez seja o período que exija mais fé por parte dos cristãos do que qualquer outro.

Inicia-se na quarta-feira de cinzas, indo findar na quinta-feira santa, quando os cristãos comemoram a última ceia que Jesus fez ao lado dos apóstolos. Um marco inesquecível para nós cristãos.

A Quaresma também é conhecida como o período em que Jesus passou no deserto após a sua Ressurreição. Como se vê, esse período é profundamente representativo para a história do cristianismo e como tal deve ser guardado e respeitado.

Eu costumo aproximar essas comemorações, através da reflexão, dos dias atuais em que vivemos ou desvivemos, a depender do ângulo com que vemos e encaramos os fatos. Difícil é escolhermos o período exato para estabelecer um paralelo entre ele e a Quaresma. Mas, com um certo jeitinho, conseguimos. Reolharmos nossas ações em um sentido amplo é deveras salutar: nos enriquece a alma, nos santifica.

Quaresma é um tempo litúrgico de conversão. Nele nos preparamos para a Páscoa, através da penitência e da meditação. É um tempo em que devemos dar o devido valor á oração, a esmola e ao jejum. Não aquele jejum em que de longe enxergamos o sofrimento na face de quem o faz, mas o jejum em que nele depreendemos a resignação, o amor pela fé, a reflexão e a obediência cristãs como práticas inabaláveis. É nesse tempo em que nós cristãos devemos procurar a face de Jesus e destruir os nossos conflitos interiores, buscando, na paz e no amor, o verdadeiro sentido de viver-se Nele e com Ele. A Quaresma deve representar para nós um reencontro especial com Deus, dativo na Epifania do seu amor que nos foi demonstrado pela vinda de Jesus.

Se a oração, a penitência e, principalmente, a caridade estivessem em nossas práticas cotidianas, certamente esse mundo seria menos complicado e nós estaríamos ressuscitando a cada dia. Ser cristão é celebrar a ressurreição do Cristo Jesus em todos os dias dos nossos desertos e de nossas alegrias, vendo no próximo a mais pura e representativa imagem de Deus. É carecida, pois, a oração feita com densidade de fé e de doação, como a maior efetivação da caridade.

Esperemos passar as festas de Momo, ajuntemos os nossos pedaços idos com a própria carne mundo afora e teçamos uma ressurreição diferenciada das outras a que estamos acostumados a tecer desavisadamente. O mundo nunca precisou tanto de fé como nos dias atuais, em que o desamor mata e não nos permite ressuscitar.

Assim como o Carnaval representa a festa dos desejos da carne que não ressuscita, aprendamos a valorar a outra festa com ofertas de amor e preenchimento do tempo com orações mais reflexivas. Que a Quaresma possa estender-se dentro de nós com o perfume da caridade constante, da partilha responsável, do jejum onde possamos socializar até a fome com os nossos irmãos menos favorecidos. A maior razão para pararmos nesta Páscoa é reolharmos para dentro de nós e entendermos que a paz somos todos nós e, sem o amor do Cristo Ungido, nenhum Pai terá sido dentro de nós verdadeiramente epifânico.