O Vão

Entre o passado, o presente e o futuro há o espaço. Há um vão onde a dor se esconde.

E o passado bateu, mais uma vez, na mesma porta.

Deixou entrar pela fresta. E a dor inundou todo o quarto.

Não há um único espaço sem olhos molhados.

Corpo encharcado de promessas descumpridas refletindo toda a dor.

Remexeu todos os armários e quase nada mais lhe cai bem.

Foi um bom tempo engordando e emagrecendo de ilusão, saudade e solidão.

Perdida. E sem caminhos à frente.

Apenas um único vão onde se esconde da vergonha de se sentir só.

Perplexa. Diante do gigante ego que amedronta, que expele o orgulho e a vaidade de nunca esperar não ser correspondida.

Fala. Fala mais. Fala só para ela.

As palavras nunca tiveram muito efeito sobre ele.

Escreveu mil poemas e nenhum penetrou este coração que não mais a pertence.

É de outra, é do mundo. É de ninguém.

Nada o entorpece vindo dela.

Nada o encanta.

Nada a enobrece.

Pobre menina.

Junte todas suas letras, seus passos de dança e sua melodia mais triste e faça arte.

O vão entre uma vida e outra é o mesmo entre passado e futuro.

Então, não espere saber o que fazer com estes passos pesados, inundados de saudade e solidão.

Este presente imerso em dor do passado, passa.

Menina, moça, mulher.

Segure as lágrimas.

Suporte a dor.

Siga, sinta, não se perca, amor.

O passado vai embora.

E logo chega a brisa da saudade,

com as trovoadas de dor.

Mas o futuro sempre será amanhã.