O PRAZER DA LEITURA NO UNIVERSO DO POETA.....

Quando não tinha o que ler, inventava meus próprios textos.

na ausência destes, lia o mundo. As pedras. Rios desaparecidos. Ruínas. Quintais. Ribanceiras. Árvores. Troncos. Cidades desaparecidas

numa estranha predileção pelo marginal, pelos vestígios. Não que ignore os mares e as montanhas luminosas. Muito menos os castelos

povoados de fantasmas e histórias. Sei também que a história do mundo não depende só dessas coisas grandiosas. As realidades ínfimas também contam, e muito. Sempre tive olhos e olhares para tudo o que existe. pelo menos me esforço para isto. Da mesma forma a morte. Esta, tanto quanto a vida me atrai e atormenta. Não só a minha, principalmente a dos seres que amo. Próximos ou distantes. Conhecidos ou desconhecidos. Mas o que é o mundo senão o ininterrupto movimento de acender e apagar as luzes, de abrir e fechar os olhos. DE nascer, morrer, renascer, desmorrer. DE falar, ouvir. Ouvir silêncios e siluetas.

DEsde muito cedo estas indagações, creio, sem respostas completas, me acompanham. Tudo será sempre motivo de descoberta. O mundo está a min ha frente e é preciso toca-lo, senti-lo. Foi de leitura em leitura que caminhei os meus passos até aqui, e sou da forma que estou. Hoje sei que escolhi o caminho mais difícil. Mas não me arrependo disso. Sei que por estes caminhos, trilhos, atalhos, desvios, só se anda sozinho. mesmo quando estamos lado a lado com alguém ou com algum ser muito íntimo, ainda estamos a sós. Até agora não tenho certeza se isto é bom ou ruim. Só sei que é assim que é. Pelo menos é assim que me sinto. Por estes intinerários sem mapas só se aprende "errando". Ainda mais se aprende quando se descobre uma grande descoberta: a linguagem que possuimos. Só a possuimos porque somos herdeiros de um incalculável patrimônio. Herdeiros de uma herança milenar. para que esta herança seja comunicável precisamos sempre de outros semelhantes a nós para doarmos parte do que recebemos. E todos estamos na mesma interminável estrada. Pouco importa se na mesma direção ou na direção oposta. Pouco importa se ja tenham passado por onde estamos passando. Pouco importa ainda o objetivo da viagem. Temos a palavra. Possuimos a linguagem. mas para executar esta tarefa que é a tarefa de todos os poetas, de todas as épocas, não basta apelar para a razão que, felizmente, está em crise e não dá sinais de breve recuperação. nem para o "dom" simplesmente. Também descobri sem mágoas, que a poesia é inútil e exigente. De uma inutilidade que lhe garante toda grandeza. na poesia, a exigência é refinada e lhe dá um lugar de destaque entre as outras formas de expressão artística. No mais, sei que não permaneci fiel a poesia. Foi a poesia que permaneceu fiel a mim, apesar dos meus limites e leviandades. De m inhas constantes interrogações acerca do mundo e da vida. Entendi que sem os poetas, de todas as raças e espécies, a poesia não se materializaria no poema, que é sua forma clra de ser e de se mostrar. É através do poema, texto, que ela passa de geração em geração e a todos encanta e desafia. Poema único. Flor e fenix. A poesia move, comove, sustenta. Suporta o mundo.