Brincando de boneca

São umas gracinhas, não há como negar: roupa muito bem escolhida, bolsa e sapatos de grife (mas grife, não essas coisinhas que estamos acostumados a ver) maquiagem perfeita e aquele andar, quem há de resistir? Pena que tenham menos de quatro anos de idade! Parece tara, não parece? Ou é apenas o espelho do enorme vazio existencial dos pais, mães, especialmente, que brincam de bonecas de luxo com suas filhas.

A Veja desta semana traz reportagem com o título: “Guarda-roupa de gente grande”, dedicada ao universo de roupas a crianças treinadas desde muito cedo para não decepcionarem as fúteis mamãezinhas e crescerem como patricinhas absolutas, caríssimas e tão ou mais fúteis do que as mães. O ícone é Suri Cruise, filha de Tom Cruise e Katie Holmes, dona de um guarda-roupa básico de 3 milhões de dólares. Pouco, se considerarmos que já tem três anos de idade... Prada, Louis Vuitton, Stella McCartney, Armani e outras marcas que só sabemos que existem por causa das revistas de fofoca recheiam os armários dessas bonecas que deveriam estar brincando de serem adultas e não sendo levadas a se vestir e portar – porque uma coisa puxa a outra – como se adultas fossem para satisfazer os desejos de adultos.

“Falta ocasião para a Luna usar o tanto que tem”. “Eu sempre quis ter uma menina justamente para enfeitá-la toda”. “Não medimos esforços porque achamos que vaidade tem de vir desde pequena.” Afirmações como essas saem das boquinhas fofinhas das mães deslumbradinhas e vazias, vazias.

Quem não quer que os filhos e, especialmente, as filhas se apresentem bem, bonitos, agradáveis, graciosos? Todos, sem dúvida, mas o que é isso? Educar para a superficialidade, a aparência, a macaquice é muito diferente de querer e deixar os filhos bonitos; gostar-se é muito diferente de ser vaidoso a ponto de precisar de grife em tudo para me contentar; capricho é muito diferente de esnobismo. Quais serão os valores cultivados por uma criança que cresce sendo cabide de luxo dos caprichos da mãe? Como aprenderá o valor de algo se cresce sabendo que o que importa é uma marca? Terá alguma chance de não ser consumista se a mãe lhe dá aula e exemplo o tempo todo? Aprenderá a amar se tudo, para ela, se resume a ter e comprar? Terá um resquício de humildade se é educada para a superficialidade?

Crianças imitam o universo adulto em suas brincadeiras, mas não precisam, não precisam mesmo, de adultos que as façam de bonecas.