Carinho correspondido

Sozinha num canto, parecia deslocada, incomodada com sua beleza e seu charme. Foi amor à primeira vista e pedi para ser apresentado. Não sabiam seu nome, ou, se sabiam, não prestei a devida atenção; sei apenas que até agora não sei como se chama. Encantadora e sem nome.

Apesar da postura ereta, nada fora do lugar, o que normalmente pressupõe arrogância, havia uma humildade profunda emanada dela. Cativante humildade.

Perguntei o preço por perguntar, pois parecia um tanto acima de minhas posses de momento. Não era: com toda sua beleza, custava o mesmo que comuns violetas. Saí com meu vaso da encantadora, cativante e não batizada flor.

“Algum defeito deve ter”, pensei, acostumado com a efemeridade das flores de pequenos vasos, e ela parecia tão frágil. “Essa não dura uma semana, talvez até esses botões florescerem, mais não”.

Aí ela resolveu me surpreender: os botões como que espocaram, tamanha a rapidez com que se transformaram em flores, belas flores, nos olhando, tentando nos descobrir. Com quase a mesma rapidez, surgiram novos botões, que se abriram, e vieram novos, de uma usina escondida não se sabe onde.

Troquei de casa. Com receio de que não agüentasse a mudança, pensei em plantá-la em algum jardim, mas resolvi arriscar: transplantada para um vaso maior, a levei comigo.

Talvez por causa do carinho, talvez devido ao clima, mas nada disso adiantaria se não fosse sua vocação de embelezar, continuou florescendo a cada dia. Parecia adivinhar meus pensamentos, pois bastava chegar mais perto para descobrir novos botões em profusão, alguns meio escondidos, talvez querendo exclamar “Surpresa” à aproximação do rosto. E todos viravam flores, belas, com um núcleo vermelho escuro, clareando para as bordas, até chegar a um rosa quase branco.

Tudo isso em troca, apenas, de um pouquinho de água, de tirá-la do sol quando este estava muito forte, coisas simples e rotineiras assim. Uma grande admiração por sua beleza também deve ter ajudado um pouco. Ah! Se os humanos retribuíssem assim.