O céu para onde vão os pais

A vida é misteriosa, muitos dos seus segredos desvendamos ao longo do caminho que percorremos, outros, vão além da própria vida... desde criança tento entender a partida das pessoas, a missão pessoal de cada um, por que alguns morrem com cem anos e outros nem chegam a nascer e por que os pais morrem.

Nossos pais não deviam morrer. Bom, pelo menos era assim que eu pensava quando criança. Depois da morte prematura de meu pai, aos (apenas) cinquenta e sete anos, e após meses de luto e questionamentos com Deus, cheguei a conclusão que existe um céu especial para eles.

Existe sim um céu com caminhos floridos e perfumados, onde canta-se desde música dos anjos a bolero, rock, jazz e jovem guarda. Tomara, pois era o gosto musical de papai. Lá eles podem jogar cartas, ver as partidas de futebol, e se apossarem do controle remoto. As mães têm um espaço especial também, desde as mais experientes às mais jovens, com salas de jogos e calçadão para um boa caminhada. Neste lugar há um mensageiro que leva as orações dos filhos, a saudade dos dias alegres junto deles e a fé de um reencontro feliz.

Sim, deve existir um lugar especial para os pais no céu. Afinal foi dada a eles a missão de nos dar a vida, nos conduzir pelos caminhos tortuosos e difíceis do mundo. Foram eles que deixaram muitas vezes de comer para acalentar a fome dos filhos, deixaram de realizar seus sonhos para ter um filho na faculdade, trabalharam dobrado para mudarem o destino da família. Deles vieram o encorajamento nas vitórias, o conforto nas derrotas e a experiência nas decisões.

Nessa semana, se aproximando o dia dos pais, percebo que apesar da ausência de meu pai, o sentimento em nada mudou. Aprendi a amá-lo nas alturas, de onde o vejo acenando, dizendo que lá é legal, que não preciso ter medo, a vida vai me ensinar ainda muitas coisas... coisas que ele já sabe porque está num lugar especial... onde um dia saiu para vir aqui me dar a vida e me fazer conhecer o amor verdadeiro.