"AUTOR É UM PAI CUIDADOSO" Crônica de: Flávio Cavalcante

AUTOR É UM PAI CUIDADOSO

Crônica de:

Flávio Cavalcante

O autor ao escrever uma obra literária, nasce ali um sentimento de afeto, como o mesmo amor de um pai para com o filho. É indescritível a dor que um autor sente quando perde uma obra literária. Presume-se que é como se perdesse um filho mesmo.

O zelo pelos seus escritos é realmente de uma valia merecedora de cuidado, pois quantas vezes o autor não deixou de dormir várias noites aproveitando os momentos de suas insônias para deixar em pautas letras preciosas para alimentar os leitores com fome informações?

A mente preciosa de um autor trabalha numa produção incansável num trabalho árduo, mas gratificante quando exposto aos seus leitores. Dá uma sensação de dever cumprido. É inexplicável o prazer que sentimos quando algum leitor se inflama, se identificando com os nossos escritos e faz questão parabenizarmos pelo conteúdo de nossas obras.

Somos pais cuidadosos e exigimos respeito pelos seus filhos que defendemos com todas as unhas e dentes das mãos dos inescrupulosos e incompetentes, que destroem nossas obras sem ao menos pedir licença.

O registro da obra é questão de obrigação para não sermos vítimas destas pessoas que se dizem donos daquilo que não lhe pertence. Sem escrúpulos nenhum metem a mão como animais carnívoros e insanos, que rasgam a carne depois de temperada e pronta.

Pessoas que se acham no direito de invadir a privacidade do autor, modificando todo o conteúdo que ele levou horas para pôr em pauta. Conteúdos informativos para todo o seu consumidor.

Quem nunca foi vítima destes incompetentes que usurpam obras prontas, modificando o conteúdo e sem caráter algum, alem de ter a capacidade de dizer ou até publicar em seu nome?

Eu sou autor de teatro e tenho várias peças teatrais montadas em vários Estados do país, o que me deixa lisonjeado e agradecido a este recanto que ao postarmos estamos levando os nossos filhos a um mural onde o mundo tem acesso, que é o nosso Recanto das letras.

Recebo diariamente vários e-mails de grupos de teatro querendo montar minhas peças e já tive no decorrer do tempo várias surpresas.

Recebi um e-mail de um diretor de teatro de um Estado Brasileiro que veio me pedir para montar um texto que escrevi sobre a Paixão e Morte de Jesus Cristo. Só que ele relatou em suas linhas que ele era um diretor moderno e queria sair do trivial. Pediu que escrevesse mais três cenas. Uma cena seria de Jesus com doze anos. Até aí normal para um diretor inovador, mas pra minha surpresa, ele pediu também que escrevesse outra cena, onde Jesus conversasse com o diabo, lembrando o escândalo do mensalão do congresso nacional e que eu acrescentasse uma fala de Jesus mencionando os dinheiros postos na nas meias e nas cuecas. Achou pouco e ainda disse que no próximo ano, ele iria fazer a montagem onde ia existir uma cena de Jesus transando com Madalena.

Caro amigo leitor. Era só o que estava faltando ver. Pois já tive problemas com diretores de teatro que depois de liberada á montagem se achou no direito de acrescentar palavras de um vernáculo chulo e baixo calão, que eu me envergonharia de assistir qualquer espetáculo com este nível de conteúdo, e aquele que se diz diretor de teatro fez isto numa comédia deliciosa para toda a família desopilar o fígado com o prazer de gargalhadas, que fora montada em outros Estados.

Acho que aprendi a lição. Só libero peças de teatro para montagem depois que passo a conhecer o grupo e se possível um contato mais direto através de um papo no MSN. Aí fico controlando passo a passo a montagem.

O conselho que eu dou para todos os pais que tem amor aos seus filhos, que nosso caso são as letras. É registrar suas obras antes de liberar para qualquer um fim. A Biblioteca Nacional está aí pronta pra receber as obras para registro e também a SBAT – Sociedade Brasileira de Autores de Teatro.

O amigo leitor deve ta se perguntando qual a minha atitude em cima desses usurpadores não é verdade?

No primeiro E-mail recebido, tive que ser indelicado e responder á altura dando um basta na situação. A resposta ele não gostou de ler e me respondeu dizendo houve um mal entendido. No segundo caso, como meus trabalhos são registrados, tive por direito, embargar o espetáculo e tirar o direito de daquele grupo cênico a montar qualquer tipo de obra de minha autoria sob as penalidades da lei que eu tenho direito.

TODOS NÓS AUTORES TEMOS O PRAZER E A ALEGRIA DE SABER QUE NOSSAS OBRAS ESTÃO SENDO APRECIADAS POR PESSOAS DISTANTES, MAS O MÍNIMO QUE QUEREMOS É QUE TODOS RESPEITEM OS NOSSOS FILHOS, QUE PODE NÃO TER MÃE, MAS TEM UM PAI MUITO CUIDADOSO.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/02/2010
Código do texto: T2111782
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