Notícias de uma filha

Oi painho...

Antes de tudo peço sua bênção, como aquela que me destes na última vez que lhe deixei, sentado e olhando eu partir, a que sempre encheu meu coração de paz e espalhou alegria em meu viver.

A saudade ainda aperta o peito e enche meus olhos de lágrimas, inútil tentar detê-las. Não se preocupe, sei que não gostava de me ver triste, ficava sempre de testa enrugada, olhos distantes, procurando compreender o que dizia minha alma. Logo o sorriso retorna ao meu rosto, principalmente quando vem à memória seu jeito de menino tímido, quando eu te abraçava e te enchia de beijos estalados. Lembra quando eu te agarrava para dançar comigo pela sala? Eu sempre fui a maluquinha da casa, mas sei que era essa minha maluquice que te deixava feliz.

Já são tantos anos sem poder olhar teus olhos, olhos tristes de quem muito sofreu, olhos lindos que expressavam o amor que me dedicava.

Seus netos estão crescendo, falo sempre sobre seu amor pela leitura, pelos escritos, procuro ensina-los o que me ensinastes, sobre como o mundo pode ser mais interessante, quando visto por outros olhos, olhos de escritor. Eles também amam a poesia.

Eu continuo trabalhando e estudando, tentando alcançar alguns objetivos. Cada vitória me faz relembrar o brilho orgulhoso dos teus olhos...

Algumas vezes relembro tuas chatices, hora de desligar a tv, de desligar a luz, de dormir... Sabe o que eu descobri? Que hoje cometo mais chatices ainda (risos).

O dia dos pais está chegando. As flores serão compradas e depositadas sobre teu túmulo, estarei lá para mais um monólogo, o respeito à sua memória será preservada. Sei que será um ritual solitário.

Entretanto, compreendo que todos os dias o meu amor é alimentado pela lembrança de tua presença, pelo amor que me presenteaste.

Meu querido painho, desejo que Deus, em sua infinita misericórdia, te contemple com muita paz e amor.

Junto dessas notícias, segue meu amor, ternura e admiração.

De tua filha amada.