Suicídio do Presidente

Eu fiquei em pânico com o suicídio de Getúlio Vargas. Era Interno do Hospital Moncorvo Filho e diante da perplexidade geral, previ que as coisas não iriam ficar assim!... Carlos Lacerda tinha feito uma bruta onda, diga-se de passagem, com razão, por causa do atentado de que fora vítima, culminando com a morte do Major Rubens Vaz; as Autoridades da Aeronáutica descobriram que a trama fora urdida pelo guarda-costa pessoal de Getúlio, Tenente Gregório chamado “O anjo negro”. A coisa ficou complicada e o presidente abandonado, humilhado pelos militares da Aeronáutica, sem qualquer culpa na história; não deu permissão e até ignorava a violência que sua guarda pessoal tramou; resolveram, por excesso de bajulação, silenciar o jornalista brilhante que era Lacerda, provocando a tragédia, que deu seqüência à própria tragédia da Democracia! Getúlio Vargas, após a Ditadura de 15 anos, recolheu-se a São Borja, dedicando-se a sua fazenda e a seus hábitos de homem simples. O Jornalista Samuel Wainer teve grande influência no seu retorno pelas urnas, pois, fez inúmeras reportagens em São Borja com o Getúlio divulgando-as pelo jornal, se não me engano, Ultima Hora. Getulio deixou seu refúgio e candidatou-se à presidência democrática, para substituir o Presidente Eurico Dutra, dando um banho de urna no candidato imposto pelo clero; apesar de homem corretissimo, Eduardo Gomes não tinha condições de disputar com um político de tanto prestígio junto ao povo; a vitória de Getúlio ficou atravessada na garganta dos militares, que viram no comportamento de Gregório Fortunato - o anjo negro, como o cognominaram, um ato ditado pelo presidente. Diante do abandono a que ficou relegado pelos amigos, coagido a deixar o governo, contando apenas com sua filha Alzirinha, deu um tiro no peito, deixando uma carta de despedida onde dizia deixar a vida para entrar na história! Eu tenho uma fotografia feita pelo fotógrafo Ismar do Presidente no leito de suicida; mantive-a comigo desde aquela época, tendo-a entregue à Alzirinha em sua casa no Leblon, no dia da morte de Amaral Peixoto. Voltando a 54, Getúlio morreu, foi enterrado e nada de revolução popular; somente os golpes militares costumeiros e mais nada! 10 anos após, em 1964, o Brasil teve de pagar o tributo de seu suicídio, com o golpe de 31 de março, cujas feridas ainda não estão cicatrizadas!