DIREITO DE SABER


Uma casa requer mais cuidados do que um apartamento. Internamente, nem tanto, visto que a distribuição dos cômodos não difere muito, a não ser no caso de verdadeiras mansões, daquelas que estão mais para palacetes do que para casas.
 
            A casa onde moro possui um jardim e um pomar localizado nos fundos, após a edícula. O pomar é composto por alguns pés de laranja, tangerina, banana, limão, manga, caju e acerola, além de um solitário pé de café, muito bom por sinal.
 
            Tanto o jardim como o pomar são gramados, o que requer atenção constante no que diz respeito ao controle de pragas, corte da grama, adubação e regas no momento certo.
 
            Como o meu forte nunca foi mexer na terra, tenho comigo já há algum tempo um jardineiro que cuida tanto do pomar como do jardim. Natural do Paraná, onde sempre trabalhou na roça, tem ele mais de 75 anos e sempre o vi com uma saúde exemplar, realizando suas tarefas com uma disposição incomum para a idade já um tanto avançada.
 
            No começo de 2009 teve que se afastar temporariamente devido a problemas de saúde que atingiram seu intestino, levando-o a uma delicada cirurgia. Fui visitá-lo, achei-o bem disposto e tive a informação de que a cirurgia havia sido bem sucedida, passando ele agora por avaliações periódicas com o médico que o operou.
 
            Durante o tempo em que esteve afastado, seu genro responsabilizou-se pelos seus afazeres em minha casa e na de alguns vizinhos. Retornou ao trabalho há mais ou menos um mês, está com uma aparência ótima e com a mesma disposição, mas sabe que não pode fazer muito esforço, o que me deixa preocupado quando tem que  manusear o pesado cortador de grama, uma vez que o pomar é em terreno íngreme. Ele não consegue se entender com outro cortador que coloquei à sua disposição, bem mais leve, à base de um fio de nylon como lâmina de corte.
 
            Conversando recentemente sobre isso com um amigo em comum, este me disse: “O Sr. Carlos (nome fictício) não sabe o que tem, pois sua família não contou para ele”. Nesse momento caiu minha ficha. Ele está com câncer, não sabe disso, e eu o mantenho trabalhando como antes.
 
            A partir daí comecei a questionar algo que sempre me incomodou e para o qual não encontro padrões definidos. Uma pessoa, acometida por uma doença desse tipo, deve ou não saber a verdade?
 
            Honestamente, eu não sei responder. A dor de uma doença não é apenas a dor física, e a perspectiva da morte próxima e inevitável é fator depressivo, podendo fazer com que esta chegue mais rápido. Vem-me à mente uma frase que diz assim: “O que vale mais: uma pequena mentira que traga um sorriso ou uma verdade que traga uma lágrima?”. Nesse caso nem seria uma mentira, mas uma omissão da verdade.
 
            De qualquer modo, é difícil, muito difícil.
 
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