Felicidade e indiferença, ou o contrário *

"O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente". Esta quadra inicial do notável poema autopsicografia de Fernando Pessoa define o papel do poeta diante da poesia. Vai uma história: Um poeta mandou quatro poemas para uma velha amiga, e como resposta ela lhe disse: Reconheci-me no texto “insônia”; e ele lhe passou a informação: nunca tive insônia! Sendo assim, ela em réplica escreveu-lhe um e-mail reproduzindo somente o primeiro verso: o poeta é um fingidor! A exclamação passa a ser minha. O poeta foi tão fingidor, que a impediu de sentir-se nos outros três... Pessoa reclamava no poema ISTO. “Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”. Certamente por isso, Raul de Leoni escreveu um longo poema a que chamou “A canção de Todos” com cerca de 111 versos, salvo engano, em que ele aconselha: “Duas almas deves ter é um conselho dos mais sábios. Uma no fundo do ser, outra boiando nos lábios”. Sendo assim, diversos da autobiografia, são os textos que escrevemos usando a imaginação e a inspiração, muitas vezes, como por analogia, um texto psicografado, tal qual um daqueles profissionais da vidência, onde nem sei se incluo Chico Xavier...O que teria levado Pessoa a escrever no Livro de Moral e Regras de Vida, que “A felicidade está na indiferença. Em tudo para que não é indiferente o homem não é feliz.” Quando os atores vivem personagens de uma peça, muitas vezes, junto ao cansaço vem o sofrimento íntimo pelo papel representado na fantasia. Como aquelas figuras de fanáticos que representando Cristo na Cruz, fazem-se pregar com grandes pregos pelas mãos e pés na madeira, só faltando morrerem de fato. Assim, são os textos que compomos...Motivo pelo qual escrevi um texto a que chamei exorcismo: Eu sinto que há no íntimo de mim mesmo, alguma coisa estranha que me inquieta; um ser desconhecido em estado de alerta – vagando a esmo!

* Título inspirado na frase de Pessoa