UMA HISTÓRIA INTERESSANTE do HOMEM DO GATO

UMA HISTÓRIA INTERESSANTE do HOMEM DO GATO

FLAVIO MPINTO

Sempre quando ando pela Rua da Praia- Porto Alegre-RS e deparo com o Homem do Gato, assisto uma apresentação.

Aquele cidadão conhecido como Homem do Gato, é um artista mambembe que alegra a vida das pessoas no centro da capital. A mais de 20 anos que faz suas apresentações e conta que até no exterior já esteve, pelo menos ele diz. No verão se apresenta nas praias do Litoral Norte.

Com um saco de estopa, um pedaço de pau, uma corda imitando um gato amarrado e um apito que simula voz de felino distribui alegria a quem passa e inferniza as “gurias” e namorados com suas tiradas nem sempre de bom gosto. Mas para quem ali passa despreocupado e desejoso de, por uns momentos, esconder as agruras da vida, lá está o Homem do gato.

No final da apresentação, vende seus produtos conhecidos: imitações de cocôs de plástico, vômitos, bombons com pimenta, canela, fumo, e outras bobagens, e pede uma contribuição agradecendo de forma muito interessante mostrando sua alegria em cada nota ou moeda recebida.

“ Olhem, 20 reais- viva, muito obrigado, Deus lhe pague e...” “ 5 reais, viva, viva, muito obrigado...” e vai agradecendo. É claro que isto também faz parte da encenação. Quando apanha as moedas. “ 1 real, bom...” “ 50 centavos...25...” “ 10 centavos..” aí dá uma entonação na voz e ela vai baixando de forma muito divertida.. “ 5 centavos.” “ Ah, não acredito: quem foi o desqualificado que me deu essa moeda? Será que meu show vale 1 centavo”, diz quase chorando.

Certo dia ele agradeceu a Deus ter recebido uma moeda de 1 centavo, pois com certeza, seria a única moeda que alguém tinha para lhe oferecer. Tal como uma pessoa que, em agradecimento, desse o melhor que tinha a outrem e esse melhor não era o que o outro esperava receber. Talvez , quem lhe deu aquele centavo, tivesse tirado do leite dos seus filhos ou da passagem de ônibus. Um discurso diferente e foi aplaudido pelo que falou.

Sábio, o Homem dos gatos, um artista mambembe muito bagaceiro, mas de um coração generoso e muito grande. Por isso não perco uma apresentação sua na Rua da Praia.

Me fez lembrar aqueles profissionais de saúde do interior que recebem porcos, galinhas, sacos de batata, milho, linguiça ou qualquer coisa de valor , do paciente que atenderam.

E também um episódio que me aconteceu em 92. Servia em São João del Rei- era major e tive de acompanhar o comandante da unidade ao campo de instrução. Não era uma fiscalização na instrução da subunidade que lá estava, mas uma visita a um casal de idosos que morava dentro do campo. A Justiça já havia determinado sua saída e a indenização paga a muito tempo, no entanto os filhos foram para a capital e deixaram os pais , naquela época com quase 90 anos, sozinhos. Não desejavam sair de lá, apesar dos riscos que passavam. Era barulho todo dia e noite, tiros, explosões, gritos, coisas de soldados guerreiros como são os combatentes de montanha. Os soldados não tinham pena da D.Maria e seu esposo. E nem sabiam se eles se incomodavam ou não. A D.Maria nos serviu um café preparado com muito gosto com o melhor que tinha. Mas o resultado foi um café de gosto horrível e nos ofereceu de forma muito amável e generosa. Eram muito pobres e era o melhor que tinham a nos oferecer. Depois disso sempre quando eu ia ao campo de Instrução visitava o casal e levava uma pequena ajuda, café e tomava o café da D.Maria.