Manga verde com sal

Esther Ribeiro Gomes

Saudades daquela mangueira! Quantos momentos passei, desfrutando sua sombra gostosa, nas tardes preguiçosas de verão...

Éramos inseparáveis: as primas Maria Amália e Maria Antonia e a amiga que também se chamava Maria Antonia.

Quando as mangas estavam ‘de vez’, ou seja, quase maduras, escalávamos os galhos da mangueira, munidas de uma faquinha e um punhado de sal. Era uma delícia saboreá-las assim.

Parecíamos moleques, subindo em árvores, comendo amoras, jabuticabas, laranjas e mexericas docinhas, no pé. Que tempo bom...

Os momentos marcantes ficam gravados para sempre na memória!

Na cidadezinha de Itapuí (pertinho de Jahu), ao lado do cinema, tinha o bar da D. Izaura, que ficava em frente à pracinha da Igreja.

Ela fazia deliciosas empadinhas de carne moída com azeitona, de massa fina, divina! Não era essa massa podre que mais parece farofa...

Até hoje sinto aquele gosto na boca...

Antes de entrarmos no cinema, comprávamos as empadinhas para comer durante a sessão, garantindo a diversão!

Um dia, M. Amália levou um maço de cigarros ‘Hollywood’ sem filtro e no meio do filme, fomos à toalete experimentar a novidade...

Nas primeiras baforadas, tossíamos feito loucas!

Na saída do cinema, quis jogar o maço fora, mas M. Amália não deixou, disse que deixava pista... E lá fui eu para casa, levando o maço de cigarros.

Minha mãe já estava dormindo e eu, pé ante pé, fui enterrá-lo no fundo do quintal. Mas a Sra. Dagmar, dona da casa onde morávamos provisoriamente, até terminar de construir a nossa, me seguiu e no dia seguinte, contou para a minha mãe. Fiquei uma semana de castigo!

O pai das minhas primas era caminhoneiro e nos finais de semana a curtição era ir à fazenda da nossa amiga M. Antonia, na carroceria do caminhão. Quanta folia fazíamos no caminho...

Quando lá chegávamos, era só diversão: subir nas árvores para comer frutas no pé, pular amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, pular corda, que delícia...

Quando me recordo daquela época, vejo que nas pequenas coisas é que reside a alegria. Aí me lembro daquela canção: eu era feliz e não sabia!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 14/03/2010
Reeditado em 17/03/2010
Código do texto: T2138335