Raízes expostas

Na trilha dos ciclones (foi um, foram quantos?), telhados desabados, paredes bambas, enfim, um rastro de destruição que não deixa dúvida sobre quem manda, apesar da prepotência humana.

Somos sempre mais fracos, que o digam Haiti, Chile e por aí vai. Corremos sempre atrás do prejuízo, feito moscas tontas ou bêbados errantes que até sabem o que querem, mas não conseguem alcançá-lo. Somos ridículos em nossa pequenez e na pretensão de onipotência, igual ao aluno franzino que desafia o maior sabendo que vai apanhar, mas não desiste, não por coragem, mas por pura teimosia inconsequente.

O mar se agita e as ondas se agigantam como se um deus travesso jogasse imensas pedras em sua superfície e soprasse assustadores hálitos para formar tapetes de espumas. A força das águas não admite ser desafiada: lava a ousadia com a violência dos justos.

As nuvens pesam e se derramam no que era para ser um regar e se transformam um caudal de corredeiras enlameadas. Corredeiras que não respeitam os sinais nem dos semáforos. Também não respeitam outras convenções como a que diz que lugar de água é em leito de rio.

Um dia, o dia, na esperança de que se recolham em suas humildades, mas sem certeza disso, se acalma para que os homens possam respirar e fazer a contabilidade – homens adoram contabilizar tudo, mesmo o que não pode ser mensurado - e somos inundados de números, alguns assustadores, como se almas e sonhos fossem feitos para contar! Pois é, para que servem esses números? Para chacoalhar nossa impertinência ou apenas para comparar com o passado e projetar para o futuro, num exercício macabro de irresponsabilidade, um lavar as mãos estatístico?

Na trilha dos ciclones ficaram , também, seres outrora imponentes, abrigos de ninhos, poleiros de pássaros exibidos. Enormes árvores que ousavam acariciar o vento, em instantes, se tornaram suas vítimas: torcidas, sacudidas, resistiram enquanto puderam e sucumbiram. Jazem nos pastos e nos jardins, vítimas de suas alturas e, talvez, de quererem abraçar demais. Imensos cadáveres ainda verdes, com as raízes expostas à espera dos machados e das motoserras.