UMA CADELA CADUCA

A minha mãe ganhou a Noca de um médico amigo e vizinho de veraneio. Ela já era quase adulta. Moramos na praia de Balneário Barra do Sul desde o ano de 1992. Desta data em diante ela tem nos acompanhado e já trouxe muitas alegrias, nasceram filhotes que estão em outros lares, com exceção da Suzane Werner, vulgo (Suzan) que está em nossa casa e lhe faz companhia. Uma cadela de vida normal da raça Pinscher, aliás, uma vida bem longa, calculamos que ela deve estar com uns 19 anos. Ela ainda tem atividades, mas, volta e meia nos pegamos a rir com as suas esquisitices.

Ela é de cor preta e marrom claro, porém, os pelos já estão bem branquinhos (grisalhos) em quase todo o corpo. Está meio corcunda, mas, ainda anda bem ligeirinho arrastando as enormes unhas pelo piso da casa, fazendo um barulhinho mais ou menos assim: Plec, plec, plec. Olha! Lá vem a Noca pedir comida! Diz um de nós. As vezes tropeça nas próprias pernas, quando vai se coçar perde o equilíbrio nas três perninhas e desaba, acabando o serviço deitada mesmo. Quando está dormindo dá para ver a língua em quase todo o seu comprimento saindo pra fora da boca, pois, dos dentes que lhe seguravam não sobraram mais nenhum. Ainda bem que baba pouco, surda não está totalmente, cega quase que sim, acredito que se baseia nos vultos para se orientar.

Agora pegou a mania de só querer colo, late fazendo um pouco de esforço, não variando muito o timbre que já está audivelmente rouco. E fica pentelhando vários minutos ou horas se deixar, até que de peninha damos o colinho. Ainda é nervosa, até hoje só a minha mãe beija ela na cara, para os outros avança e ameaça morder, mas nunca aconteceu nada grave com ninguém. O fato é que agora ela sabe que não tem dentes e chega a abocanhar a nossa face, quem sabe para nos afastarmos, idealizando uma defesa.

Às vezes como uma cobra, dá um bote no nariz. Quando isso acontece não pelo abuso, mas , pelo carinho que temos, (Ela é muito queridinha) a gente ri muito. Certo dia a minha mãe procurou por ela e não a encontrava, depois de vasta busca nós olhamos dentro do guarda roupas, ela estava lá tranqüila dormindo...

Volta e meia flagrávamos ela cavoucando as folhas secas caídas do pé de sombreiro, querendo se enterrar ou se esconder não sei do que. Hoje em dia ela late como sempre o fez, para pedir comida quando estamos almoçando ou jantando, porém, depois que damos uns naquinhos bem miudinhos pra ela engolir sem mastigar, (Ta banguela lembra?) ela ainda continua a latir e pedir comida, mesmo que já tenhamos saído dali.

Fica latindo pra cadeira , pra mesa, pro sofá, pra parede; pedindo comida ou colo. Um dia desses o meu pai saiu e deixou o portão um pouco aberto, ela pelo cheiro procurando-o escapou pela greta, (Nunca tinha escapado) ninguém viu, todos com seus afazeres nem demos a falta dela por uma meia hora talvez. O sol estava de lascar, uns 30 e poucos graus. O telefone toca... É a minha irmã que mora distante da nossa casa uns 600 metros, ria bastante e falando pra minha mãe que a escutava, que a Noca foi encontrada vagando sem rumo, pela Mayara (sua filha que ia pegar o ônibus pra faculdade) próximo da rodoviária. Ela se perdeu de casa na sua aventurinha.

A mãe, surpresa assim como todos, começou a rir muito e exclamar: Ha, ha, ha, coitadinha, não me diz que essa danadinha fugiu! Que peninha... Ha, ha, ha, acho que estava fazendo turismo! Lá vem a minha irmã com a Noca nos braços, se desmanchando a rir, logo que chegou ganhou colo. Depois a mãe soltou-a no chão, ela fez menção de latir, mas, com a língua toda pra fora devido ao cansaço e calor aquietou-se...

Eduardo Eugênio Batista.

Setedados
Enviado por Setedados em 17/03/2010
Reeditado em 16/06/2011
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