MILU a ninfa

MILU A NINFA

Desde já começo por avisar aos bisbilhoteiros de plantão que, não adianta procurarem em compêndios de mitologia porque não vão encontrar a citação ao nome da ninfa Milu, pois tal deusa é pertença de águas de certo e recôndito rio não conhecido por nenhum antigo grego, e por a mesma ter vivido, ou ainda viverá? em tempos bem mais modernos e por tanto não pertencido às calendas gregas.

Pois a Milu era uma bela menina lisboeta, simples mortal de carne e osso como qualquer outra menina lá da terra. Mas devido a milagres que só no meu rio Agadão costumavam acontecer, essa sílfide filha de mãe daquelas terras serranas, certo verão acompanhou sua mamã em férias a tão recônditos lugares. Com certeza já devidamente informada que, nesta terra havia um belo rio de águas límpidas que convidavam ao banho nos dias de verão, trouxe em sua bagagem um belo e luzidio maiô preto. Até aí nada de extraordinário, apesar que nos dias de hoje é peça que se vai tornando raro, substituído em sua grande maioria por outra peça bem mais sumária a que chamam de s biquíni. Mas maiô era peça pouco conhecida por aqueles imberbes rapazolas, e as meninas suas contemporâneas dispensavam seu uso.

Peça normal para as pessoas da cidade, ou de lugares mais próximos ao litoral, mas não para aquelas gentes de distantes aldeias, que em sua maioria jamais teriam visto o mar e, as que tinham tido essa ventura, ou desventura, pois, a tal ida até à praia mais próxima demandava alguns sacrifícios, pela lonjura e os minguados transportes naquele tempo. Os que tal aventura faziam era por recomendação médica para tratamentos reumáticos e outros problemas de saúde. E a parte que era exposta do corpo das mulheres, era as pernas, pouco mais que acima dos tornozelos, quando muito até ao joelho, fato que causava grande frustração nos homens, que torciam por uma lufada de vento que alevantasse a saia até às coxas, especialmente das jovens e das mais bonitas.

As raparigas e mães de família lá da terra costumavam banhar-se no rio, ao começo da noite, cuja única luz era o luar e, assim, fugirem ao olhares indiscretos de matutos de plantão, prontos a flagrar alguma visão curvilínea que os levasse ao paraíso, tão zelosamente guardado por aqueles anjos, ainda que, nem sempre tão angelicais assim.

Certa tarde de domingo quando toda a canalha miúda e, não só, se esbaldava nas águas do poço da Várzea, que era a parte mais funda do rio, aparece a Milú que, após retirar sua roupa sobreposta ao maiô, deixando seu corpo bem torneado digna da mais bela ninfa, cantada em prosa e em verso por poetas sonhadores. Seu belo par de pernas mais se destacavam da cor preta e luzidia daquela peça de roupa tão sumária, deixando toda aquela turma estupefata e babando, por tão doce e inusitada visão. Aos poucos foram cercando aquela estrangeira, pensando tratar-se de alguma deusa que, daquelas águas assim como num milagre, tenha surgido e, num átimo tomado a forma humana, para deleite e encantamento de todos aqueles felizardos babacas de ocasião.

É bem certo o ditado: o fruto proibido, neste caso escondido, é sempre o mais apetecido. Quem hoje se importaria com as belas pernas da Milu, de seios e de quase todo o corpo impudente expostos aos olhares indiscretos, não só na praia como na cidade? Pois o que antes era mistério, deixou de o ser, por isso perdeu a graça. A mulher deixou de ser musa, à medida que ficou desnuda. É apenas mulher, e sem o poder de despertar até mesmo os sonhos eróticos, pois incorporou apenas a plástica, a estética, sem mais se preocupar com aquela beleza que às vezes os olhos não veem mas o coração sente.

Não, não senhor, nem sempre o modernismo é o melhor. O homem precisa do mistério para poder sonhar, ainda que o sonho se desfaça logo ali ao dobrar da esquina da fantasia.

Felizes eram os antigos gregos com seus deuses, suas musas, e demais divindades, porque assim podiam construir mitologias, viver suas utopias, sonhar, sonhar, enfim...

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 20/03/2010
Código do texto: T2149645