A estação do aconchego

Dois dias dedicados a passear, dois amigos, cada um para seu canto. Outono em Nova York. Vento frio e cores quentes, combinação perfeita. Um sábado inteiro no Central Park, pisando nas folhas, observando patinadores, andando sem destino além do de procurar lugares belos. Um filme, outro filme, e mais um: eu precisava guardar essa luz em outro lugar além de minha retina. Filme, explicando aos mais jovens, é uma coisa que se coloca dentro das câmaras fotográficas de uns tempos atrás e a fotografia fica gravada nele. Do verde escuro ao marrom, passando por todos os matizes possíveis, assim se vestiam as árvores, e despiam-se devagar, num um strip-tease para o inverno que chegava. Raios de sol se insinuavam por entre os galhos, folhas e folhas, gente andando, patinando, uma bicicleta desce pequena elevação. Fotografo. Aparece a bicicleta, pessoas fazendo piquenique e um casamento sendo fotografado. Tudo dentro do mesmo quadro. Coisas de outono.

Cada estação tem seu charme, mas duas têm a beleza como característica: a primavera e o outono. A primavera, tempo de falas novas, é um tributo à semente e à expressão da beleza; o outono é uma reverência à vida, ao tempo do descanso, à paz. Primavera é beija-flor, abelha, vento que leva pólen, estação de lapidar projetos de frutos. Outono tem cor de sabiá, folhas que caem suavemente, cada uma com sua coreografia que, conforme o vento, continua no chão, tapete que acaricia nossos pés, estação de se despir das aparências.

Tudo, no outono, se aquieta, mas sempre com suavidade, não é a solidão de inverno, nem a exuberância da primavera; é a maturidade com toda coragem de se expor.

O sol muda sua trajetória, sempre mais baixo, desenha horizontes e pinta o mundo com cores mais aconchegantes. O outono aproxima até na sensação de distância. Olhe para uma paisagem no inverno, em dia claro, e faça o mesmo num dia típico de outono: tudo parecerá mais perto, como se fotografado com teleobjetiva.

Começa agora a estação de formar tapetes para a passagem do tempo se aquietar com dignidade.