Cicatrizes(EC)
 
 
Cicatrizes,
são  marcas profundas,
Que ora aparecem, ora  não
porque as que são as mais fundas
São as que se escondem
 no coração.
 
 
Tenho uma cicatriz na coxa direita. Já foi uma cicatriz mais visível. Hoje, quando penso nela, tenho que procurar, tão apagada está. Eu me lembro como a consegui. Brincadeira de criança no quintal de minha casa. Um pau de lenha. Em uma extremidade preguei uma tampa de lata, prego bambo. A outra extremidade, pontiaguda. Comecei a correr, fazendo a tampa da lata girar como uma roda. Ao primeiro obstáculo a tampa estacou. Eu não. Resultado – a parte pontiaguda da lenha afundou em minha coxa direita. Ao puxá-la, vieram também pedaços de carne. Horror. Doeu, na hora. Fiquei impressionada por uns tempos. Hoje, praticamente, esqueci. Ah, mas as marcas do coração, cicatrizes tão fundas que se tornaram invisíveis aos olhos do outro, estas ainda doem e sangram.
 
 
 
 
Cicatrizes são marcas profundas,
Invisíveis, as do coração.
Cada uma foi feita a punhal
arrancando um pedaço da alma.
Tristes marcas que a vida deixou,
Restos de dor que não curam a
Intensa tristeza da vida
zombam ainda da dor que causou
E mesmo quando o tempo escoa
São sombras do que um dia foi sonho.
 
     Nem mesmo posso dizer que essas cicatrizes, as da alma, são totalmente maléficas. As marcas que ficam nos fazem lembrar de um sofrimento que não queremos ver repetidos e por isso são marcas que ensinam e, quando novas cicatrizes se formam, já as recebemos com uma maior compreensão. Dói. Dói para sempre. Mas a gente as aceita melhor. Servem ao propósito da Evolução.
 
Eu também tinha uma cicatriz no braço mas já nem sei se era no direito ou no esquerdo. Sumiu. cicatriz de vacina. Assim era, quando eu era menina. Hoje as vacinas não deixam marcas.
 
Uma vez assisti a um filme. Havia um índio chamado Scar. Ele tinha uma imensa cicatriz no rosto, daí o seu nome. Eu fiquei apaixonada pelo índio e aprendi a palavra em inglês.
 
Outra vez assisti uma novela, daquelas de rádio, na sala de visitas da casa de minha avó. O rádio era a peça mais importante da sala. De minha casa, se a janela estivesse aberta, minha mãe enxergaria dentro da sala. Minha avozinha fechava a janela para eu ficar ouvindo a novela sem ser perturbada por minha mãe, que me vendo ali logo gritava: Maria, venha para casa, já. Minha mãe não gostava que eu ouvisse novelas, minha avó adorava contrariar minha mãe.Nessa novela Havia um homem que amava muito sua mulher, mas ele tinha muito ciúme dela. Achava que ela não gostava dele porque tinha uma enorme cicatriz no rosto. Ela estava grávida e ele pensava que o filho era de outro. Eu nem sequer imaginava que isso podia acontecer. Estar casada com um homem e ter filho de outro. Foi ali que aprendi que não era a cegonha que trazia as crianças. Acho que foi minha tia quem me contou. Ou minha prima? Minha tia era mais velha, minha prima mais sabida. Morava na cidade média.
 
Fico até pensando se não posso chamar essas lembranças de cicatrizes. Não doeram, mas não deixaram de marcar a minha vida tanto é que ainda me lembro delas.
 
 
Cicatrizes
são marcas
que a vida
deixou.
 
Acho que fiz um poetrix. Eu tenho um amigo, o Tom, que não gosta desta forma poemática. Ela acha que é preguiça de pensar. Pode até ser, foi um baiano que inventou e baiano é danado de esperto. Eu acho que poetrix não é tão fácil assim. Afinal sintetizar de forma poética uma idéia, um conceito ou um sentimento utilizando-se de um título introdutório mais três versos com até trinta sílabas não é mole não. é coisa para intelectual. Mas isso não tem nada a ver com o tema deste exercício Criativo. O problema é que a criatividade por aqui anda em baixa e eu estou escrevendo assim como quem não pensa, só pega umas palavras no ar e rápido as digita para que tomem forma, não importa a forma que tomem.
 
Ah, eu também tinha uma pequenina cicatriz na testa, restos de catapora arrancada. Não está mais lá, conferi. Se tiver, está menor que um grão de areia e os olhos cansados não conseguem enxergar. Mas, quem pode se interessar por isso? Quanta bobagem só para não ficar de fora do desafio. Tenho que aprender a dizer: desta vez não vou escrever porque o tema está difícil. Tão difícil que eu nem sei que texto é esse que escrevi. Tome tento Merô, deixa de ser besta.
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Cicatrizes.
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