A MÁQUINA DE ESCREVER E O COMPUTADOR

     No tempo em que as canetas precisavam ser abastecidas de tinta, exercitava-se muito para se ter uma bonita letra, através dos cadernos de caligrafia. O autor do texto era reconhecido facilmente pela letra. Com o aparecimento da máquina de escrever, em 1873, a escrita tornou-se anônima, uniforme e fria. A invenção do computador e do editor de texto surgiu para revolucionar toda comunicação humana. Não mais se escreve um texto, digita-se. Pode-se cortar, transferir e colar, desaparecendo da tela o original, ou seja, perdendo-se para sempre a historia do texto.
     É inacreditável o que essa maravilhosa máquina faz. Contudo, não se pode afirmar que ela é inteligente. Pelo contrário, pode-se dizer que ela é muito burra! Sim, a única coisa que ela sabe mesmo é a diferença entre zero e um. Isso mesmo é feita de milhões de pequeníssimas “chaves” liga-e-desliga, ou seja, zero e um. Em alguns aspectos não chega a superar totalmente a máquina de escrever. O escritor e cronista Carlos Heitor Cony, numa de suas crônicas, faz a seguinte comparação: “A velha e aposentada máquina de escrever tinha com o dono a fidelidade de um cão. Nunca o traía, estava sempre a seu serviço, fazendo uma porcaria ou uma obra prima; ela o obedecia, não tomava a iniciativa de o ajudar, de o corrigir, de o completar. O computador tem o charme de um gato. Mas os gatos tem vida e personalidades próprias, dão bolas ao dono quando querem, quando estão dispostos. Tendem a ser independentes, a se virarem sozinhos”.
     Apesar de todos os recursos tecnológicos, o computador trouxe um considerável aumento das lesões por esforços repetitivos (L.E.R). Os datilógrafos, que há alguns anos exerciam as mesmas atividades dos usuários dos computadores de hoje, apresentavam uma menor incidência de L.E.R. A antiga máquina de escrever obrigava o datilógrafo a executar movimentos diversificados: controlar manualmente a alavanca de retorno, ajustar o carro, colocar papel e trocar a fita.
     Diante de tudo isso, só nos resta usufruir dos bons frutos, ou dos bons pulos desse “gato” de muitas vidas, sem nos descuidarmos de seus arranhões, de seus vírus, de suas mazelas; pois ele pode ser um presente ou um castigo dos deuses.