ATIRANDO COM A PÓLVORA ALHEIA




Uma novidade ? Nenhuma. Mas, para não perder o destino das mãos, vou eu cavaquear com o pensamento dos outros, ou melhor, atirar com a pólvora alheia.

Para os de bem com a vida, que primeiro fale Horácio, Ode XXVI: “assinalemos este dia entre os mais felizes, não se poupem ânforas; e como Sálios, descanso não demos aos nossos pés”.

Descanso não demos aos nossos pés, isto porque pela boca de Sancho, Cervantes disse e está lá no cap. XLIX de D. Quixote: “ Cada qual abra bem o olho e fique alerta, porque o diabo entrou na dança e se lhe derem ensejo, ver-se-ão maravilhas. Virai-vos em mel e as moscas vos comerão.

Se o diabo entrou na dança, é bom dar ouvidos a Stendhal quando afirma em o Vermelho e o Negro, cap. XX: “ São conhecidas as suas tramóias; mas as pessoas interessadas em reprimi-las estão de sobreaviso”.

Mesmo estando as pessoas de sobreaviso, não custa nada lembrar o que diz o príncipe de Ligne: “ Muitas vezes, somos iludidos pela confiança; mas a desconfiança faz que sejamos por nós mesmos enganados”.

Se somos iludidos, “Há de o tempo desvendar o que hoje esconde a discreta hipocrisia”. Quem nos diz é Cordélia em o Rei Lear. Ato I de Shakespeare.

Há os que escondem a hipocrisia e há os que semeiam promessas, que no dizer de Ovídio, em A Arte de Amar, é o seguinte: “ Semeai promessas – a ninguém causam desfalque e o mundo é rico de palavras. A esperança quando outros nela crêem faz ganhar muito tempo”.

Enquanto o mundo é rico de palavras, o “ Próprio do espírito sorumbático, é andar sempre calado; tagarelar é o encanto e a alma da vida”. Diz La Chaussée.

Ora, se tagarelar é o encanto e a alma da vida, bem diz Lavagne: “Debaixo do céu há uma coisa que nunca se viu: é uma cidade pequena sem falatório, mentiras e bisbilhotices”.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 26/03/2010
Reeditado em 26/03/2010
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