O Caso Nardoni

Como sou advogado naturalmente as pessoas vêm me perguntar sobre o que eu penso dos casos que aparecem na mídia, causando grande comoção.

A minha postura é quase sempre a mesma: não opino sobre casos cujo processo eu não tenha lido.

O caso que recheia a mídia agora, a exaustão, é o caso da morte da petiz Isabela Nardoni.

A menina que foi defenestrada enquanto ainda estava viva, após ter sido violentamente agredida é tudo que sei.

Há várias versões fantasiosas ou não, verdadeiras e falsas, sobre a crônica dos acontecimentos e o julgamento dos suspeitos tem provocado reações no mínimo estranhas.

Explico.

É que, de soslaio sobre o caso, vejo pessoas das mais diversas origens se acotovelando na frente do isolado Forum Regional de Santana em São Paulo para, quem sabe, ver alguém, descobrir algo inusitado ou ainda somente para somar aos demais desocupados que por lá vagueiam.

Não falo com desejo de ofender, mas quem fica se acotovelando na porta de um fórum apenas para ver sabe-se lá o que, somente pode ser desocupado. Cidadãos normais estão trabalhando ou descansando de seus turnos laborais.

Algum forasteiro pode dizer que isso é diversão de paulista, como diziam no passado dos que faziam do aeroporto de Congonhas seu parque de diversões.

Ledo engano. São Paulo, a capital, tem muitas opções de lazer e de passatempo, muito melhores do que ficar na porta do prédio público olhando outros fazerem o mesmo, ou seja, nada.

Pertinho do Forum Regional de Santana tem várias opções interessantes e para todos os gostos: o Anhembi, sete ou oito Escolas de Samba, o Playcenter, a Federação Paulista de Futebol, o prédio do jornal O Estado de São Paulo, bares, restaurantes, pizzarias, churrascarias, praças públicas etc..

A pior consequência dessa mórbida curiosidade dos desocupados é a falta do que fazer, provocando reações estranhas contra os defensores do casal suspeito (sim, porque somente serão culpados se condenados e da condenação não couber qualquer recurso).

Todos têm direito à defesa, até mesmo os culpados. Antes de estar na nossa Constituição Cidadã, está na natureza humana o direito à defesa. É sabido que a Justiça é falha, porque falhos são os homens. Assim, para reduzir a possibilidade de erro judicial é que existe a defesa ampla e o contraditório, palavras bonitas e sérias, mas que são desprezadas por essa turba disforme e destituída de legitimidade.

As opiniões acerca de serem inocentes ou culpados não passam de palpite de leigos, que não leram sequer uma linha do processo (seja dos Nardoni ou qualquer outro) e palpite não tem compromisso com nada. Palpite é como umbigo, todos tem pelo menos um.

Pior que os palpites dos ilustres desconhecidos, são as manifestações dos especialistas em generalidades que bradam pelo que entendem ser Justiça. Só falta um pronunciamento do Excelentíssimo Senhor Dono de nossa Nação acerca do assunto, já que ele é o maior leigo especialista em tudo, inclusive a paz no oriente, mas isso é outro assunto.

Minha opinião com relação ao caso, para encerrar esse desabafo, é de que, apesar da torcida pelo promotor e dos apupos ao advogado, há de haver a aplicação do Direito.

O casal, que nem é tão importante quanto a torcida, já foi condenado pela população (e pela imprensa em geral).

Antes que surjam gritos pela liberdade da imprensa, da qual sou defensor intransigente, digo que liberdade (de expressão, sobretudo de imprensa) deve ser exercida com isenção, o que nem sempre acontece, menos ainda nesse caso de “strepitus fori” (que significa barulho do foro, escândalo, exposição excessiva) em que todos falam o que querem, quase sem nenhuma base científica.

É minha opinião. É minha cara dada à tapa.

Almir Ramos da Silva
Enviado por Almir Ramos da Silva em 26/03/2010
Código do texto: T2160284
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