O Álbum de Casamento

Wilma, linda menina-moça, sonhava com o dia de seu casamento, que já estava com data marcada. Preparava seu enxoval com muito carinho, peça por peça, pois não podia se dar ao luxo de entrar numa loja e dali já levar tudo pronto. Mas nada disso afetava sua felicidade. O que ela queria mesmo era viver feliz ao lado do amado, por toda a sua vida!

André, seu noivo, homem prudente, buscava na Bíblia a razão de seu proceder: “construir sua casa sobre a rocha”, para que nada ofuscasse o brilho e nem abalasse a união com sua querida Wilma . E foi pensando nos detalhes, para o grande evento, que André contratou o Sr. Jota, o fotógrafo mais competente da região, para registrar aqueles inéditos momentos de sua vida! Queria que ele ficasse atento a tudo, desde a hora que sua linda noiva saísse de casa, rumo à Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Porto Velho. E tudo ficou verbal e previamente combinado quanto a horário, preço e outros quesitos mais.

Chegou o grande dia!

A noiva mesma se maquiou. Afinal era só um “simples batonzinho” e nada de sombras e muito enfeite. Uma escovadela no cabelo e já estava pronta! Na verdade, sua beleza dispensava muitos adereços. Foi com o tradicional vestido branco, véu e grinalda, que toda risonha se dirigiu à Igreja.

As juras foram feitas pelo jovem casal perante o padre, as testemunhas e inúmeros convidados! E se tudo não saiu tão perfeito, foi devido à falta de pontualidade do fotógrafo que deixara de registrar alguns lances da cerimônia, o que deixou o noivo bastante contrariado! A vida é bela, mas de dificuldades ninguém escapa.

André e Wilma começaram logo suas atividades domésticas, com coragem, com garra e muito companheirismo. Juntos e felizes! Os inevitáveis desafios foram vencidos um a um pelo amoroso casal .

O álbum de retrato é que nunca apareceu, pois André e o fotógrafo se desentenderam quanto ao preço e não houve negociação que selasse o negócio.

A vida do casal logo foi enriquecida pela chegada dos filhos: Andréa, Angélica e Adriano que sempre deram muitas alegrias aos seus pais. A família muito unida e sempre presente uns na vida dos outros, nos momentos felizes e também nas horas tristes. Tristeza, praticamente, só existia no coração de cada filho, quando, folheando algum álbum de casamento de conhecidos, ouvia o suspiro da mãe:

- “Minha maior tristeza é nunca ter visto o álbum das fotos de meu casamento! Todo casal o guarda com carinho essas grandes recordações e eu, nem ao menos, tive a alegria de tê-lo entre as mãos!”

O tempo foi passando, os filhos crescendo e a Providência Divina velando por aquela família!

Um dia, Andréa resolveu comprar uma Câmera Polaroid e saiu, acompanhada de Angélica, procurando pelos estúdios de Divinópolis. Foram parar justamente no Foto Jota, onde encontraram uma bem acessível. Havia, na ocasião, uma exposição de fotos antigas e Andréa, conversando com o proprietário, o Sr. Jota, lembrou-se de perguntá-lo sobre álbuns de casamentos. Ele, todo solícito, deixou que elas revistassem todo aquele material ali guardado, por muitos anos, e que o dono não se interessou em adquirir. E, no meio de tantas fotos, um velho álbum de casamento chama-lhes a atenção. As duas mocinhas estremeceram na base. Perderam a fala, quando identificaram as lindas fotos do álbum. A mãe se mostrava, em toda sua singeleza, a mulher mais linda do mundo! Elas, no auge da emoção, quiseram negociar com o fotógrafo, mas ele se lembrou de todo impasse da época do casamento. Num segundo, tudo veio à tona e ele embutiu no preço todo o desgaste, o prejuízo e as contrariedades que sofreu! As meninas pediram um parcelamento, mas nada conseguiram. O Sr. Jota queria o pagamento à vista. Afinal ele já havia esperado vinte e quatro anos por aquele pagamento.

Andréa e Angélica saíram desapontadas do estúdio e nem mais se lembraram da Polaroid. E bem na saída encontraram um grande amigo, o hippie Vicente, que ali ganhava a vida, fazendo brincos, cordõezinhos e braceletes.

- Vicente, pelo amor de Deus, diziam elas chorando, você que é amigo do fotógrafo, convence-o a vender-nos o álbum de retrato por um preço menor ou então em prestações.

Vicente tentou acalmá-las, prometendo conversar com o Sr. Jota.

No outro dia, liga Vicente para Andréa, dizendo que o Sr Jota estava irredutível. A mágoa dele era grande e era tudo à vista ou nada feito.

Andréa, desesperada, extrapolou-se:

- Vicente, este álbum eu ainda o compro pelo preço de bananas! Você vai ver!

E seis meses se passaram.

E novamente, ligou Vicente para Andréa:

- Minha amiga, venha aqui correndo. O senhor Jota morreu e a família vai queimar todas as fotos velhas aqui do estúdio!

Andréa, toda trêmula, saiu em disparada, angustiada com medo de não chegar a tempo de recuperar aquela preciosidade. E lá ela encontrou um dos filhos do Sr. Jota, sentado numa cadeira analisando uns papéis. Ela não quis se mostrar tão interessada em adquirir as fotos, mas o coração quase lhe saiu pela boca. Ela se justificou que queria umas fotos de sua amiga. O rapaz deixou-a à vontade para procurar o que quisesse. E era muita foto e muito papel jogado no chão. Ela nadava em poeira, procurando o tesouro ali escondido. Quando achou o velho álbum, quase chorou de emoção. E disse:

- “Moço, achei o que queria: esse velho álbum. Quanto você quer nele?”

E o moço respondeu-lhe:

- Ele já estava jogado fora. Dê-me cinco reais, só para eu tomar uma cervejinha.

Tremendo como uma vara verde, Andréa abriu sua bolsa, entregou o simbólico pagamento ao rapaz e logo a seguir, saiu correndo feito uma louca para procurar o Vicente e agradecer-lhe, ainda muito emocionada.

Andréa, Angélica e Adriano debaixo do maior sigilo, procuraram um fotógrafo e pediram que ele organizasse um álbum bem luxuoso com aquelas fotos. Ficou tudo muito lindo e também bem guardado na casa de Jane, a ajudante de Andréa, para esperar o dia das bodas. Os três filhos ansiosos anteviam a alegria da mãe quando recebesse o presente.

Finalmente, chegou o tão esperado dia! A família, os amigos, todos reunidos, comemoravam aqueles vinte e cinco anos de uma união tão feliz!

É chegado o momento da surpresa. Será que Wilma estava preparada para tantas emoções? Os três filhos, com um embrulho de presente nas mãos, iniciaram um pequeno discurso:

- “Querido papai, querida mamãe, no dia de hoje queríamos presenteá-los com alguma coisa de valor, que realmente tivesse um grande significado para vocês, por tantos anos de dedicação mútua, de alegrias e sofrimentos, na criação e educação dos filhos. Então lembramos deste presente que vai trazer-lhes muitas lembranças e preciosas recordações! Esperamos que gostem!”

Wilma foi desembrulhando o presente e logo viu que era um álbum.

- “Deve ser um álbum de fotografias deles quando crianças”, pensou ela.

Quando ela abriu aquele lindo álbum e viu as fotos de seu casamento, caiu num convulsivo pranto - mistura de alegria e grande comoção:

- “Meu Deus, foi preciso que vinte e cinco anos se passassem para que eu me visse vestida de noiva!” E chorava copiosamente. O paizão André também tremia e soluçava. E ninguém conseguia segurar o pranto. Todos choravam e sorriam, a um só tempo, enquanto Wilma abraçava com carinho o Álbum de Casamento!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 14/08/2006
Reeditado em 15/05/2008
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