O caderno
Comprei um caderno e uma caneta para escrever tudo o que passasse na minha cabeça. Com a mente e o coração fervilhando de pensamentos e sentimentos, sentei com o caderno em meu colo e a caneta na mão pronta para abrir-me ao mundo.
Sinceramente, não sei o que aconteceu. Havia muito para escrever, mas, mesmo assim, não havia nada para escrever. Se eu verdadeiramente escrevesse o que passa em minha cabeça e em meu coração, ninguém me entenderia. E quem disse que eu mesma me entendo? Como é difícil não conseguir compreender a si mesma, como é difícil! Ao mesmo tempo, é ótimo porque eu tento desvendar-me e dedico-me mais tempo.
Quero conseguir preencher esse caderno, não é justo ele ficar todo branco e solitário. A solidão é ruim demais e não a desejo nem para o meu florido caderninho.
Assim como fazem comigo, quero que as palavras façam companhia para ele, quero que as palavras durmam com ele. Sei como é dormir sozinha numa noite fria e não quero que o caderno sofra. Dói demais.
Sinto medo, não sou perfeita. Sinto medo em ser mal compreendida e julgada. Sinto medo de julgar erroneamente a mim mesma. Sinto medo do medo, porque ele me faz sentir tão com medo!
Penso muito, sinto muito e o caderno continua sozinho. O que será que devo escrever nele para confortar sua solidão? Há muitas coisas que alguém poderia dizer para confortar a solidão de alguém, mas muitas delas são mentiras. Isso é triste, mas é fato.
Muitas delas são mentiras, mas não as direi porque não sei mentir ao meu caderno tão sofrido. Escreverei o que eu sempre quis ouvir. Com a caneta na mão, escrevi carinhosamente "estou com você, já mandei a solidão embora e prometo que ela nunca mais voltará aqui porque eu não deixo". Desajeitosamente, caíram uma lágrima e um sorriso no caderno.
Na minha frente, ele estava sorrindo e molhado... Também sinto medo de meu caderno julgar-me erroneamente e me abandonar. Se tenho algo mais a dizer para ele? Sim, tenho, mas quero que ele fique apenas com as minhas confortantes palavras porque o mundo é tão bom quando não estamos sozinhos...