Globalização e Massificação

Globalização e Massificação

Jorge Linhaça

Muito se fala em globalização como se a mesma fosse algo maravilhoso para todos os seres humanos. Vende-se a idéia de que, em um mundo globalizado, todos os seres humanos tem vantagense maior facilidade em atingir seus objetivos em uma sociedade globalizada.

Nada mais ilusório.

O preço que se paga pela dita globalização é o mesmo que as colonias antigas pagavam por serem submissas às respectivas metrópoles.

Hoje o colonialismo não se restringe à invasão territorial das nações e , talvez , exatamente por isso, muitos não consigam detectar esse processo e, a maioria dos que conseguem, estejam na mesma situação dos antigos detentores das Capitanias Hereditárias, ou seja, enquanto levarem alguma vantagem com isso, calam-se e fingem que nada acontece.

Sofremos desde há muito tempo uma colonização cultural e econômica, cada vez mais abre-se mão de um sistema financeiro independente.

No caso do Brasil, todos os anos algum banco menor e também os estatais, passam ao controle de grandes grupos internacionais e isso passa despercebido a todos nós pois estamos focados apenas em saber como ficam as nossas movimentações financeiras a partir desse momento.

Cada banco ou empresa estatal privatizada,( e nisso o PSDB é campeão ) são divisas que se escoam pelo ralo para grupos que detem o controle financeiro sobre a economia mundial e os bens de consumo.

Mesmo as estradas de rodagem tem sido privatizadas e sobre elas são criadas sobretaxas chamadas de pedágio.

Quem garante que essas mesmas praças não serão utilizadas em breve ( mais do que são hoje ) para cercear-nos o direito de ir e vir?

Se pararmos para analisar coisas simples como o preço dos combustíveis em nosso país, ficamos perplexos com o valor que pagamos por eles já que somos um país auto-suficiente nesse quesito.

Por mais desculpas esfarrapadas que a Petrobrás e o governo nos deem para termos a gasolina mais cara da América do Sul, embora a nossa seja misturada ao alcool etanol, não há como explicar que países que nada ou quase nada de petróleo produzam ,como Paraguai, Argentina e Uruguai, possam vender gasolina PURA e mais barata do que um país continental que alega ser auto-suficiente.

O único motivo real para isso é que, sendo o Brasil um país onde a agricultura bate recordes de produção praticamente a cada safra, os altos preços do combustível servem como um "regulador mundial" para que nossos produtos cheguem ao mercado nacional e internacional encarecidos e portanto com preços semelhantes aos dos países que precisam importar petróleo.

Somos um povo manipulado por um governo também manipulado por uma pseudo economia global que apenas favorece a concentração de renda nas mãos de alguns.

Tentemos raciocinar um pouco:

Produzimos nosso próprio alimento, não dependemos de importação de nada ou quase nada que venha do exterior e, se dependemos é exatamente porque somos uma colonia quase monocultora onde se plantam extensos latifundios de soja, por exemplo, como se só de óleo vivesse o homem.

O mesmo acontece com outros tipos de culturas agrícolas.

Produzimos ( ou deveríamos produzir) nosso próprio combustivel, o que bastasse para movimentar nossas frotas de veículos...

Temos talvez, a maior biodiversidade do planeta e consequentemente condições de sermos auto-suficientes também na produção de medicamentos e insumos.

Temos uma costa marinha imensa, uma produção de pescado e frutos do mar capaz, talvez, se bem manejada, de suprir nossa própria demanda. Além disso temos os peixes de água doce pois somos um país abençoado com bacias hidrográficas imensas.

Ainda assim, pasmem os leitores, continuamos a ter pessoas passando fome em muitos pontos desta imensa nação porque somos "obrigados" a pensar de maneira globalizada, abastecendo prioritáriamente o mercado internacional, encarecendo nosso abastecimento para praticar preços compatíveis com o mesmo, o que só atende o interesse dos grandes produtores assim como só atendia ao interesse dos barões do café ou do açucar ou da borracha em outros tempos.

O papel da grande mídia, nada mais é do que a de nos manter atordoados e anestesiados, acompanhando os circos emocionais promovidos em torno de casos criminais; cercados pelo medo de sair às ruas; envolvidos em folhetins eletrônicos onde a degradação moral e social se faz mais e mais presente, ditando comportamentos que são assimilados pela sociedade de maneira sub-liminar, de modo que fica-nos a pergunta ( inventada e usada por eles para justificar os personagens de suas tramas ) a vida imita a arte ou a arte imita a vida?

A verdade é que a TV funciona como um imenso alto falante "gritando" palavras de ordem...gostem de tal tipo de música...tolerem tal tipo de comportamento...

não discutam nada profundamente...( a maioria dos telejornais hoje são um lixo eletrônico sem qualquer interesse em debater o que realmente importa)

Vivemos mais ou menos num mundo semelhante ao retratado no filme "Matrix", somos todos ( ou quase todos ) controlados por um grupo de "Big Brothers" que nos assistem e seguem diariamente sem que nos apercebamos disso...somos cada vez mais levados a uma massificação de pensamentos e atitudes onde ilusoriamente acreditamos estar exercendo conscientemente o nosso livre-arbítrio.

Tal grupo de controladores age assim...primeiro criam um problema e jogam na mídia deixando-nos perplexos com o que ocorre...depois vão paulatinamente revelando estudos e ações , de forma que nos acostumemos a elas, como é o caso da proliferação de câmeras de vigilância em todos os lugares. Vendem-nos a imagem de que isso é para nossa própria segurança, que é apenas para combater os criminosos e infratores mas, o que impede que isso seja usado com outros propósitos?

Vozes dissonantes são logo caladas, cerceadas, reduzidas a verdadeiros guetos sejam estes culturais, artísticos, ou morais.

Espera-se que andemos pelas ruas como naquele antigo comercial do sabonete vinólia onde todas as mulheres andavam vestidas de tons de cinza, exceto, é claro a que usava o dito sabonete, toda maquiada e vestida de tons coloridos.

Massificar idéias, fazendo com que as pessoas creiam que são idéias próprias, é a maior e "melhor" maneira de manipular as massas, poderíamos dizer que é uma ditadura sócio-cultural em que as pessoas assimilam e aceitam na ilusão de que estão seguindo o seu próprio bom senso.

Foi o que aconteceu na Alemanha nos anos que precederam a segunda guerra mundial. A propaganda do Nazi-fascismo foi de tal maneira bem estruturada que os olhos do povo fecharam-se para a loucura dos seus líderes e passaram a ver apenas aquilo que alimentava emocionalmente o seu próprio ego.

Hoje, uma coisa que ouvimos constantemente, é o tal do "politicamente correto", ou seja, ir no vai da valsa, modificar o nosso comportamento de acordo com as ideáis do grupo onde estamos inseridos naquele momento.

Não é de bom tom expor nossas idéias reais, devemos, em nome do "politicamente correto"

sorrir e fingir que concordamos com tudo.

O BBB 10 serviu como um grande laboratório para isso. Até um determinado momento os participantes sentiram-se constrangidos em votar pela eliminação dos homossexuais da casa por medo de que isso fosse encarado, aqui fora, como uma espécie de homofobia.

Se o BBB reproduz o comportamento da sociedade como um todo ou se a sociedade acaba por reproduzir o comportamento dos participantes é mais ou menos como responder se "tostines vende mais porque está sempre fresquinho ou se tostines esta sempre fresquinho porque vende mais". no entanto é inegável que, ainda que reproduza o comportamento de um grupo social ( que é triado por várias entrevistas, análise de comportamento etc) a força de tal exposição na mídia é inegável e, portanto, amplifica qualquer mensagem que queira se passar para o público alvo.

Como escapar a essa massificação colonialista, tanto econômica quanto cultural é uma resposta que cada um deve encontrar dentro de si mesmo, no entanto isso é para poucos pois é preciso antes de tudo ter a coragem de perceber que se está sendo manipulado e romper as cadeias do próprio ego que acredita que as decisões que tomamos diariamente não são fruto desse plano articulado para tornar-nos marionetes como aquelas da história do Pinocchio manipuladas pelo Strombolli.

Aliás, falando ainda no Pinocchio, sempre é bom lembrar que os meninos da história eram atraídos pela euforia de um gigantesco parque de diversões onde tudo parecia ser de graça e do qual saiam transformados em burricos prontos para serem conduzidos como uma tropa para serem vendidos para a execução de trabalhos diversos.

Talvez não fosse mal darmos uma olhadela na história de Pinocchio com um olhar voltado para a alegoria das relações sociais ali inseridas no contexto de uma história aparentemente infantil e inocente.

Nenhum livro de histórias é apenas um livro de histórias. Ele carregam no seu bojo, às vezes de maneira subjetiva, as reflexões do autor sobre a sociedade onde vive ou viveu.

Desvendar ou não esses códigos inseridos na história aparentemente inocente e leve, depende diretamente da capacidade do leitor de abstrair do aparente para as entrelinhas do texto.

Abraços fraternos

Jorge Linhaça

SP, 29 de março de 2010