Descriminação Feminina, Ainda!

Descriminação Feminina

Perspectiva Geral

As notícias sobre discriminação feminina repetem-se, os casos repetem-se, as conferências sobre o assunto repetem-se.

Em 2005, dez anos depois da conferência de Pequim onde se abordou o assunto, a igualdade dos sexos, Kofi Annan denunciava a discriminação das mulheres nos acesso à educação e à saúde. Passados outros cinco anos o panorama em relação ás mulheres não mudou assim tanto, ou mesmo nada, diria. Em todo o mundo as mulheres continuam a não ter acesso a métodos anticoncepcionais eficazes e as deficiências dos serviços de saúde são causa de um terço das mortes por problemas durante a gravidez e o parto. No que diz respeito à educação, em muito países as mulheres vêm o seu acesso limitado, quando não mesmo interdito.

Esta é apenas uma das questões já recorrentes. Outra questão fundamental é a questão da empregabilidade. Ao nível Europeu não é a questão da saúde ou educação, embora não seja inexistente, a que mais se salienta e preocupa, sim, a da descriminação da mulher no trabalho. Na Alemanha o desemprego das mulheres oscila entre os 20 e os 25 por cento; na Bélgica a privatização das empresas levou a um agravamento da discriminação, em que o subsídio de desemprego das mulheres depende da situação do chefe de família, neste caso do homem; na Roménia , 60 a 70 por cento das mulheres estão no desemprego e não vêm perspectivas quanto ao futuro. Estes são exemplos de que apesar das inúmeras conferências para tentar solucionar o problema, apesar da legislação já criada, na prática as mulheres continuam a ser penalizadas na sua vida pessoal, profissional e familiar.

Mulheres com igual ou maior nível de escolaridade que os homens continuam a ser muitas vezes colocadas de parte, tidas como a segunda escolha quando concorrem a determinados cargos, a par com um homem. A maternidade, continua ser vista como um “delito” e a gerar inúmeros despedimentos. Ocupando cargos iguais aos dos homens, ou até superiores a remuneração não é a mesma. No que diz respeito à vida familiar, a barreira da “mulher doméstica” e exclusivamente doméstica e de dedicação exclusiva à família continua a ser uma barreira por quebrar.

Outro dos pontos fulminantes da questão da discriminação feminina, é o das mulheres Muçulmanas. É um tema de dificuldade acrescida, pois envolve toda uma cultura que por sua vez envolve todo um conjunto de pensamentos e toda uma maneira de pensar. No entanto, é inegável que as condições e direitos que se impõem a uma mulher muçulmana não são de forma alguma justos. Ainda que estas mulheres aceitem estas regras, pois é de acordo com elas que são educadas, ainda que estas mulheres vivam “bem” de acordo com aquilo que lhes é imposto, há uma questão que não deixa de estar presente a da Humanidade. A questão que surge essencialmente é, até que ponto se trata de cultura? Até que ponto é cultura a proibição do direito á palavra? Do direito à assistência médica, se esta for feita por um homem? Até que ponto faz parte da cultura uma mulher aceitar que as suas semelhantes possam ser açoitadas ou apedrejadas em praças pública? Entre outros…

Perspectiva Pessoal

Apesar de na perspectiva geral não ter conseguido deixar de fazer notar um pouco as minhas preocupações, numa perspectiva mais pessoal as questões que se me colocam enquanto mulher são um pouco mais profundas.

Admito-me como uma feminista, no entanto não tenho ilusões. Perfeita igualdade não existe, mas acredito numa diminuição das diferenças. Em termos de capacidades físicas não há como negar que um homem é mais forte que uma mulher, embora esta possa ser mais resistente. Este é ponto assente e de todos o menos importante. A meu ver a questão não está em sermos iguais ou não, está em vermo-nos como semelhantes,e no que a este ponto diz respeito o mais que nos têm feito, a nós mulheres, é atirar areia para o olhos.

Embora a primeira onda feminista se tivesse iniciado já no século XIX, este movimento só começa a ver a sua consolidação a partir dos anos 30/40. Este é por muitos considerado como um exagero, mas exagero ou não, desde o seu surgimento que algumas coisas mudaram e porque ainda não estamos muito longe dessa data muitas coisas se mantêem. Desde sempre que a mulher foi considerada um Ser inferior, ao qual se atribuíam as funções de reprodução, trabalho doméstico e dedicação à família. É então a partir desta altura que a mulher lhe vêm reconhecidos alguns direitos, como o do voto, da educação ou o do trabalho. Ainda que distante do ideal, as mulheres passaram de certo a modo a gozar de um certa liberdade. Para isto contribuiu também a II Guerra Mundial, que ajudou à expansão do papel feminino no plano laboral, por necessidade própria de subsistência ou dos interesses económicos as mulheres davam por esta altura um passo em frente. Mas com o fim da guerra, o novo passo atrás, a mulher voltaria ao seu papel de doméstica, mãe de família e de subordinação ao homem. A diferença é que agora a mulher sabia o que era “estar no poder”, ter o controlo de si e de forma mais camuflada ou de forma mais directa, apoiados sobretudo pela literatura os “gritos de independência” começam a multiplicar-se. A história desenrola-se até aos dias de hoje. Muitas coisas mudaram, é verdade. Mas será que mudaram realmente? Será que a sociedade passou a ser menos machista?

Eu diria que não. Diria que o que mudou foi a aparência do machismo. Se por um lado hoje temos mulheres a dirigirem grandes empresas ou que detêm de cargos políticos de relevância, se hoje temos mulheres independentes que regem os seus lares e a sua carreira com autonomia, por outro lado estas são ainda uma minoria. Chegam aos seus postos e à sua independência em condições desiguais ás do homens, quer porque exercendo o mesmo cargo que um homem, a mulher nem em todos os casos recebe a mesma remuneração, quer porque muitas vezes são literalmente postas de parte quando revelam intenções de constituir família ou engravidar, quer porque têm de provar em dobro as suas capacidades. Não, não deixámos de viver numa sociedade machista, apenas lhe mudaram a máscara, um pouco como acontece com a escravatura.

Para além disso, há a meu ver uma outra forma mais intrínseca de machismo, machismo este que é exercido não só pelos homens como pelas próprias mulheres. Aquele que nos atinge de uma forma mais disfarçada, mas nem por isso menos veemente. Se antigamente ás mulheres eram impostas as funções domésticas, hoje a função da mulher é essencialmente a função da beleza. Não importam as suas competências, importa a sua aparência. Por isso surgiram estereótipos como: mulher do campo, pele queimada, rude; mulher da cidade, delicada, bela; empregada de limpeza, descuidada, inculta; empresária, sensual e de presença forte. Agora eu pergunto-me não será este tipo descriminação mais preocupante? Não será mais preocupante que sejam as próprias mulheres a deixarem-se levar por este tipo de domínio,ou diria até, escravatura?

SophieVonTeschen
Enviado por SophieVonTeschen em 29/03/2010
Código do texto: T2166256
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