DIA DA MENTIRA
Prof. Antônio de Oliveira
aoliveira@caed.inf.br
Mentira!... é o grito de Chico Buarque no Samba do Grande Amor.
“Neste mundo, as mulheres são falsas e os homens são mentirosos”,
(de uma personagem de Mia Couto em Venenos de Deus, remédios do Diabo).
– Por que mente o homem, mente, mente, mente, desesperadamente?
pergunta Carlos Drummond de Andrade, desesperadamente.
O Salmo 115 B responde, com perplexidade também:
“E eu disse, apavorado: todo homem é mentiroso (Omnis homo mendax).”
Voltaire ameniza a interpretação desse verso alegando que é próprio do espírito humano exagerar e que talvez seja nesse sentido que assim se expresse o salmista.
Mas o fato é que todo mundo mente. Político então, com raríssimas exceções, é um profissional da mentira. Os moralistas inventaram o eufemismo “restrição mental” para significar o ato secreto do espírito pelo qual as palavras ditas se restringem a um sentido que não o normal. Com certeza. Exemplos:
– Não estou para... – Se for cobrador, diga que não estou.
Como cobrança hoje em dia se faz por boleto bancário, a restrição mental continua valendo para várias outras situações, especialmente para o enfadonho telemarketing ou pedidos de doações cuja origem a gente desconhece. Como os golpes se multiplicam, melhor talvez seja mesmo dizer, nesses casos, que não estamos.
Pois não é que, às vezes, algumas mentiras nos ajudam a viver?...
“Porque é verdade. Mas não penses que te censuro”.
Assim sentencia o trecho de apresentação do livro Baudolino, de Umberto Eco, na quarta capa. E que vai além, explicitando:
“Se queres transformar-te num homem de letras, e quem sabe um dia escrever histórias, deves também mentir, e inventar histórias, pois senão a tua história ficaria monótona.
Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas.”
Pois até mentir com charme e glamour, criatividade e erudição, é diferente, sobretudo quando parte de autoridades e advogados, como, guardadas as proporções, de assaltantes do erário, de salteador de estradas, bandeirante matador de índios ou pirata dos mares que se fazia e se faz credor de geral admiração. Políticos sabidamente mentirosos se reelegem com facilidade. “Vulgus vult decipi”. O povo gosta de ser enganado. Me engana que eu gosto.
Então tá, né!... Mas, veja lá, hein, é primeiro de abril.