TUDO É ROTINA

É mais um feriado. Holiday, holiday – cantam os entusiasmados, saindo de seus trabalhos opressivos, pegando estrada, transito, e/ ou toda aquela algazarra das rodoviárias. Espera, espera, Às vezes contando os níqueis para não gastar as cédulas, porque se não o dinheiro voa como se cria asas, tudo porque a água mineral que o ambulante vende parece barato.

Praia, sol; tudo muito caro, nenhuma sombra, e a areia escaldante e toda emporcalhada de espinha de peixe e saco de salgadinho, porque as latinhas sempre tem coletores já pedindo antes mesmo de se terminar a cerveja.

E se estar em casa de parentes, o anfitrião sempre fica olhando com aquele semblante baixo, meio sorrindo, dizendo “sem querer ser ouvido” que o gás acabou, ou bem podia ter mais cerveja, ou bem que podia ter uma picanhazinha para assar na brasa... E assim voam as cédulas que guardara com tão afinco dos ambulantes sequiosos.

Então se bebe muito, compra-se muita cerveja. Bebe-se até cair, esquecer de tudo. O feriado passa rápido quando vê “vupt” segunda feira e começa o desenrolo opressivo. Mas o que é isto, bebendo, bebendo, bebendo, ficando vago e tonto, rindo à toa de nada que tem graça.

E os filhos adolescentes bebem também junto com os pais, escondidos é bem melhor; e as mulheres fingem ter ciúmes dos maridos já barrigudos que ninguém olha.

À volta aquele ar cansado, melancólico, suados, os filhos com o celularzinho tocando musiquinha chata e cheia de palavrões e obscenidades; as mulheres gritando com as crianças menores por qualquer coisa, irritada; e os homens com óculos escuros para disfarçar os olhos vermelhos de tanto sono e tédio, e peso na consciência por “tanto” dinheiro gasto com “nada”.

E então Segunda feira, grande, majestosa, como uma voz tombando sobre a cidade, nublando o dia ainda mais, com a cara enfezada do patrão que tem que se cumprimentar, e cochichando para os colegas – porque não pode conversar em hora de serviço – como foi “divertido” o seu feriadão, e o deles foi igual?, E rir, mas rir para fora, por dentro, mas até ouvem, pigarreia sem graça, com atenção no seu trabalho, esquecido e pronto para recomeçar esquecendo a cada dia.

Rodney Aragão.