LINDA

Não sou de elogiar muito. Pena, gostaria de ter sido mais generoso sempre que percebo que deixei escapar uma boa oportunidade.

Deve ser um freio antigo, do tempo em que me apresentavam criancinhas muito lindas, recém nascidas. Quando minha filha nasceu, presenciei o parto, a mãe perguntou: - Ela é normal? – O médico diz que sim, respondi.

A Esmeralda, que já não tem o frescor dos melhores dias da juventude, diz que gosta de passar por obra, “imagina quando não me elogiarem, nem quando passo na obra?”.

O sobrinho “metido a sebo” (por que usam esta expressão?) elogia a torto e a direito, descaradamente, é um galinha, “nem sei como é que caem na tua lábia”, diz a tia Filó. Já o Roberto elogia para deixar a mulherada feliz, sem segundas nem terceiras intenções. Dizem algumas que é um sedutor, outras se enganam e partem para o ataque, para tristeza do infeliz que, volta e meia, “tem” de atender uma desentendida.

No mais, acho melhor dizer “minha linda” que chamar “minha velha”.

Elogiar é algo delicado e muitas pessoas não se dão conta da oportunidade, nem do tamanho do elogio. Muitas vezes parece um deboche, outras uma ironia, em outras é verdadeiro, mas não é bem compreendido.

O Dorvalino é um personagem extrovertido, falastrão, divertido também, mas sem limites e sem cérebro suficiente para pensar antes de falar. Não é de estranhar que, dentre as suas, a gente encontre uma que outra pérola. Dia desses encontrou o chefe, almoçando no lugar de sempre, e foi logo elogiando a acompanhante deste, que não conhecia:

- Sempre acompanhado de uma mulher bonita!

Era a esposa.

Outra vez resolveu lascar um elogio para uma colega de trabalho, uma loira lindaça que havia passado um pouco dos quarenta:

- Tu deves ter sido muito linda...

Vamos combinar que a coisa não começou bem, mas poderia ficar pior.

... quando era nova!