A REVISTA

Nádia procurava uma apostila para concursos quando percebeu um rapaz bem interessante ao lado dela. Era baixo, deveria ter 1,65 ou 1,70 no máximo, sem barba ou bigode, um pouco careca, barriguinha discreta, vestido de bermuda e camisa gola pólo; um ser normal. Nada de mais, nem charmoso, nem olhos claros, nem chave de carro pendurada, parecia sozinho.

O dia era domingo, uma manhã qualquer, sem evento ou novidade. Bem silenciosa estava a cidade: poucos carros passando, um ou outro pedestre e a ausência do sino avisando a hora da missa. Na banca o dono lia o jornal, eu fazia que procurava alguma coisa e o homem olhava uma revista. Passei a me esticar para tentar ver o nome ou adivinhar de que se tratava: nada, ele segurava com as duas mãos e perecia bem concentrado na leitura. Não resisti e esbarrei:

- Desculpe, que desastrada eu sou!

- Não tem problema, tudo bem.

Foi um desastre, a revista era uma Playboy e caiu com o encarte central aberto, uma atriz da Globo, um corpo perfeito. Claro que um cara desses gostava de mulheres assim: bonitas, perfeitas, magras. Não que eu estivesse interessada nele, mas competir com a moça da revista, é demais. Mentalmente, contei todas as estrias da minha barriga, fiz o mapa da celulite e da gordura localizada, os pneus, os peitos pequenos e os dentes amarelados. Desisti, concorrência desleal entre o mundo real e a fantasia. Sem nenhuma chance, fui saindo de fininho quando ouvi o resto da conversa:

- Não vou levar, obrigado, gostei da reportagem e das piadas, mas em matéria de mulher só me agradam as gordinhas.

Na calçada fiquei sem ação, vi o homem da minha vida me dar às costas e ir embora. Força, nenhuma; voz, muda; as pernas pesadas e a sensação de ter perdido alguma coisa.

CrisLima
Enviado por CrisLima em 16/08/2006
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