10 Blues para o seu outono

Primeiros dias frios do ano, mais do que na hora de ouvir os clássicos do Blues. Na lista de sugestões que apresento aqui, não afirmo que estão os melhores. São apenas os meus preferidos. Os que me orgulho em compartilhar com os leitores, que certamente irão gostar. Afinal, quem não se emociona com um bom Blues, alguém já disse, ou está morto ou é um desperdício de comida.

Como a lista é difícil de elaborar, prometo mais 10 para o inverno. Talvez outros 10 para a primavera. Só o verão não tem a ver com o Blues. Blues é introspecção, o verão não. No clima certo, é até terapêutica a batida e a melodia dos bluesmen.

1 –Gamblers Blues

– do grande Lightnin’ Hopkins. Permitam-me dizer, nenhum bluesmantocou violão como ele (pelo menos entre os que não venderam a alma na encruzilhada). Esta música tem uma introdução de violão que fiz questão de aprender nas primeiras aulas com o mestre e amigo Luis Fernando Herrmann. E a voz de Hopkins é daquelas perfeitas para uma noite de frio, chuva, café, fogão a lenha, nostalgia.

2 – Hoochie Coochie Man

– clássico de Willie Dixon, o maior compositor da história do Blues, sem discussões, gravada originalmente por Muddy Waters.Uma das frases de guitarra mais marcantes da história do blues, dobrada por uma harmônica que é a cara do blues. Esta versão é - desculpe o termo pra lá de antigo - matadora.

3 – Little Red Rooster

–Traduzida livremente como “galinho vermelho”, esta também é de Willie Dixon, gravada originalmente por Howlin’ Wolf. Incluo na lista por ter sido aquela que me fez gostar de blues. Para ser preciso, foi com a gravação do Rolling Stones no álbum Flashpoint, com participação do Eric Clapton. É a que entra na lista.

4 – I Just Want to Make Love to You

– Todas as (muitas) gravações dessa música me agradam. Certamente, porque a música é boa mesmo. Dá pra escolher a versão de Muddy Waters, de Etta James, do Chuck Berry, é só procurar. Aqui, mando a de Etta James, para ter uma voz feminina (e que voz!)

5 – Love in Vain

– Composição de um dos pioneiros do Blues, o lendário Robert Johnson. A letra é de um drama impossível de passar batido. Algo como o cara que seguiu a amada até a estação e ficou aos prantos ao ver o trem partir, achando que todo o seu amor foi em vão. Aversão original, gravada por Robert Johnson em 1937, merece ser preservada nesta lista, por raiva da versão dos Rolling Stones - uma delas, a do Stripped, de 1995 – que me mostrou que eu nunca seria um bom tocador de Blues no violão. Ao contrário do meu amigo Angelo Casara, que a executa com perfeição.

6 – They call it Stormy Monday

– de T-Bone Walker, é a letra de Blues mais inspirada que eu conheço. Em primeira pessoa, o narrador fala simplesmente de uma tristeza difícil de traduzir e exemplificar. É o lamento do Blues e pronto. Que dura a semana inteira, até que no sábado o cara sai para tocar e se livrar de todos os problemas da dura vida do homem abandonado pela mulher. A interpretação de Eric Clapton, no álbum The Blues, de 1990, é incrível.

7 – The Spy

– Poesia pura neste blues do The Doors. O primeiro verso já carrega uma imagem incrível, daquelas que só Morrison saberia criar. Algo como “eu sou o espião na casa do amor. Eu sei os sonhos que você está sonhando”. Também uma das melodias mais bonitas cantadas pelo poeta maior do Rock. Na cinebiografia que leva o nome da banda, Morrison (Val Kilmer) cantando os versos de The Spy para Pamela (Meg Ryan) é uma das melhores cenas do filme.

8 – I Can’t Quit You Baby

– Outra do Willie Dixon, gravada originalmente por Otis Rush, mas celebrizada pelo Led Zeppelin, em 1969. Daqueles blues beeeem arrastados, impossível de ouvir em momentos de agitação, mas perfeitos para as horas mais calmas, ou aqueles em que buscamos ficar mais calmos. Mais contemplativos também.

9 – Smokestack Lightnin’

– de Howlin’ Wolf, de 1951, um dos intérpretes mais peculiares do Blues. É dele mesmo a versão mais conhecida desta música. O melhor aqui é o clima sombrio criado pelos uivos em falsete de Wolf. Clima que o Aerosmith desconsiderou quando gravou esta Smokestack no seu MTV Unplugged. Apesar disso, a versão deles é boa também. Mas aqui mantenho a do Lobo Uivante.

10 – Champagne and Reefer

– Na letra deste Blues, Muddy Waters (dia desses um amigo malandro perguntou se eu conhecia o Águas Barrentas) pede "champanhe de manhã, e um baseado, pra ficar bem chapado". A melhor versão que já ouvi está no recente DVD Shine a light, dos Rolling Stones, onde a banda recebe o espirituoso e craque guitarrista Buddy Guy para cantar e tocar junto.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 06/04/2010
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