Garota suburbana

Ela desce a rua alegremente, com um sorriso na boca e balançar no quadril, atraindo os olhares da platéia masculina que, pontualmente às oito da manhã, a aguarda. A rua, atônita, pára.

Veste calça com um número menor, cós baixo, para mostrar as líneas do corpo bem desenhado, esculpido até. Blusa curta, para mostrar o umbigo, e o “piercing” de pedrinha que balança na cadência do corpo. A barriga, ou a falta dela, exposta ao sol da manhã, e aos homens da funilaria...

Usa maquiagem marcante, de cor escarlate, para acentuar os lábios. Contorno nos olhos, que ficam ainda mais negros e sensuais. Pele morena, cor de canela, e cabelos ondulados esvoaçantes que, com a ondulação dada pelo vento, balança a cabeça e a imaginação dos homens do bar da esquina...

A rua é a sua praia, e o ônibus seu “shopping Center”. Locais que sua condição social lhe permite se mostrar, ser vista, ser desejada. Não teve a sorte de nascer como as madames da revista de fofocas, que se exibem para todos os públicos, que são expostas na banca da esquina, que são desejadas por inúmeros homens.

Não é como aquela garota da novela das oito, que sempre é convidada para posar em revista masculina, e ganha uma fábula para isso. Sua revista, sua forma de exibição é ali, na rua, no ponto de ônibus, no baile de fim de semana... Não freqüenta teatros, festas elegantes, recepções e "vernissages". O seu mundo não lhe permite isso...

A garota suburbana se veste, e se comporta, como todas as outras garotas de sua condição social, que na urgência de se sentir diferente, torna-se igual a todas, e se comporta igual a todas. Seu corpo, sua malícia e seu charme deliciosos são armas eróticas que a natureza e a convivência social lhe deram para atrair o sexo oposto, e de forma instintiva, garantir-lhe a reprodução...

Mas, sem saber disso, ou sem ter consciência disso, ela desce a rua majestosamente, cabeça ereta, sem olhar para o chão, coluna reta, bumbum empinado e peitos para frente, apontando para o caminho.

Ignora os olhares da rua, mas precisa deles. Precisa dos olhares, da aprovação e apreciação da rua para sobreviver. Sente-se viva, mulher, gente... Como uma rainha, não vive sem os aplausos de seus súditos, apesar de desprezá-los.

Segue até o final da rua, como se fosse a passarela, e a platéia aplaude com os olhos, com a imaginação libidinosa. A garota suburbana domina a rua, é adorada pelos homens, que a desejam, e odiada pelas mulheres, que a invejam.

Vira a esquina, sumindo da visão e dos olhares que se amontoavam, e a vida na rua volta ao normal, após ser sacudida por um furacão.

Ela, a garota suburbana, vai à busca de outros olhares, outras platéias, outros súditos... Aqueles dos pontos, dos ônibus, das ruas do centro, dos calçadões...

luciano araujo
Enviado por luciano araujo em 08/04/2010
Reeditado em 20/06/2011
Código do texto: T2183942