AH! A APOSENTADORIA!

Hora da aposentadoria!

Para alguns uma hora amarga, para outros um momento de inefável alegria. Eu me incluo neste último grupo.

Aposentei-me tão logo a Constituição assegurou proventos integrais àqueles que já contassem tempo suficiente para quebrar as amarras que os prendiam ao emprego. Ah! A liberdade de ir e vir sem hora marcada e sem cobranças! Pode haver coisa melhor?

Os filhos solteiros e minha mãe em idade avançada tolhem-me, ainda, a liberdade sonhada. Não que necessitem da minha assistência integral, mas numa casa há tanta coisa a ser organizada, que se não houver alguém à frente vira uma bagunça só. Mesmo assim, sempre acabo encontrando um espaço para mim.

Como não disponho de numerário fácil para dispender em viagens à roda do mundo, atividade comum aos aposentados, tive que optar por uma outra forma de preencher meu tempo. Cursos! Cursos sem necessidade de exames finais e sem diplomas. Diploma, pra quê? Não estou à cata de emprego; sequer preciso aprimorar meu "curriculum". Quero apenas manter a mente em atividade

para que não se embote no marasmo do fazer nada.

Comecei com o curso de Esperanto, um idioma belíssimo que tem a mesma sonoridade do italiano. A idéia geral é de que apenas um número restrito de pessoas ouviu, alguma vez, falar em Esperanto. Qual o quê? É largamente difundido no mundo inteiro, possuindo publicações com assuntos os mais diversos, e sendo mesmo adotado como idioma oficial em congressos internacionais. Incluído nas Casas de Cultura da UFC não exige prova para efeito de matrícula. É necessário, porém, o segundo gráu, pois quem não souber análise sintática não saberá aplicar suas regras, que não são assim tão fáceis como apregoam. Gostei demais do Curso e das pessoas com as quais mantive contato, pena que por falta de exercício tenha já esqucido boa parte do que foi ensinado. "Kiel domâge!"

Diferentemente do que se pensa, o Esperanto não está ligado a qualquer movimento religioso, mas recebe grande apôio da maioria das religiões talvez pelo objetivo comum que os une - o de irmanar os povos.

Concluído o Esperanto resolvi partir para o Inglês. Fiz cinco anos e meio de FISK. Foi dureza. Não o aprendizado em si, mas ter que aguentar toda aquela algazarra da garotada que, muitas vezes, escapava ao controle dos próprios professores. Já para o final do curso era possível perceber uma sensível mudança de comportamento. Também estavam cinco anos mais velhos: não eram mais crianças.

E por aí venho seguindo com meus cursos. Tentei enveredar pela área musical tomando aulas de violão, mas as tais das "pestanas" são de desanimar qualquer um.

Entre estas minhas andanças acabei por descobrir a Universidade Sem Fronteiras que tem suprido minhas necessidades com uma variedade enorme de disciplinas. Até me descobri poeta... isso os outros que dizem, eu mesma não tenho tal pretensão.

No momento estou mergulhada de cabeça na pintura. Os amigos é que sofrem sendo obrigados a aceitar os quadros que disbribuo. E que ninguém se atreva a dizer que não gosta - seria uma grosseria sem nome.

Assim o tempo vai passando sem que eu me dê conta. Já lá vão dez anos que estou nesta inatividade ativa, fazendo novos amigos e ampliando meus conhecimentos de uma maneira muito, muito, mas muito prazerosa.

junho-98